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A nova cartada da UEFA no futebol de seleções

Copa do Mundo, quatro anos de jogos competitivos, Copa do Mundo: buscando a soberania.


Há 45 dias, a França venceu a Croácia por 4 a 2 para conquistar a Copa do Mundo pela segunda vez. E daqui a uma semana, as 55 seleções europeias já reabrem o novo ciclo – não com amistosos, mas com partidas oficiais. A final do dia 15 de julho foi a nona entre dois países do continente europeu e três destas decisões ocorreram nos últimos quatro Mundiais. A hegemonia da Europa não é nova; apenas uma final na história do torneio não envolveu uma seleção europeia. Foi em 1930, entre Uruguai e Argentina. No entanto, a supremacia atual do continente, com quatro títulos consecutivos, já é a maior de todos os tempos. Durante décadas, o fã de futebol se acostumou a ver um "rodízio" de campeões entre América do Sul e Europa, com apenas duas notáveis exceções: as conquistas seguidas de Itália (1934 e 1938) e Brasil (1958 e 1962). Não tem sido mais assim. E a UEFA, obviamente, quer que o domínio continue. Para isso, entre outros propósitos, criou a Liga das Nações.


No Velho Mundo, por conta das Eliminatórias para a Euro, o calendário entre duas Copas já era muito mais recheado. E há discussão, por si só muito válida, se o objetivo não deveria ser o de diminuir a quantidade de partidas disputadas por seleções – a alta incidência de lesões dos jogadores e o menor interesse dos torcedores, por exemplo, seriam possíveis causas. Entretanto, uma vez que os jogos não diminuirão, principalmente por questões comerciais, a UEFA sai na frente na transformação de seu ciclo de Copa. Mais partidas de caráter altamente competitivo podem não agradar os clubes, com justiça, mas do ponto de vista das seleções, comercial e esportivamente, a aposta faz sentido. A partir da próxima semana, quando a competição se inicia com jogos como Alemanha vs França e Inglaterra vs Espanha, será possível começar a medir, aos poucos, o sucesso ou insucesso da medida.


A Copa de 1950 não teve final, apesar da partida decisiva entre Uruguai e Brasil ter entrado para a história. Ela foi decidida em um quadrangular que também envolvia Suécia e Espanha, com o Uruguai conquistando mais pontos e levantando a taça. Portanto, a única final de Copa do Mundo sem uma seleção europeia segue sendo a inaugural, em 1930 – tabu já garantido a durar, no mínimo, 92 anos.

A Liga das Nações é, literalmente, uma liga, no sentido mais comum que a palavra possui no mundo do futebol. Há diferentes níveis, com acesso e descenso entre eles. São quatro divisões, todas divididas em quatro grupos. Os líderes de cada grupo conquistam o acesso – ou, no caso da Liga A, se classificam para as semifinais do torneio, que decidem o campeão em junho de 2019. Já os lanternas de cada grupo são rebaixados para a divisão inferior – com um cálculo específico para a Liga C, por conta dos grupos de tamanhos diferentes, e com exceção da Liga D, que não tem descenso, é claro. A competição será realizada a cada dois anos, exatamente no período que, anteriormente, constituía uma das principais janelas de amistosos para as seleções da Europa: os meses após a Copa do Mundo e após a Euro. Assim, a UEFA, sem elevar a quantidade de partidas e apenas substituindo amistosos, amplia substancialmente o número de jogos competitivos que seus países, de Gibraltar à Portugal, farão em um ciclo de Copa.


Mesmo sem se qualificar para nenhuma das principais competições, uma seleção europeia jogará, no mínimo, 26 partidas oficiais e competitivas. No último ciclo de Copa, eram 18. E para quase todos os países das Ligas C e D, este número sobe para 30. Isso porque as grandes seleções (Ligas A e B) estão em grupos de três e jogam menos, facilitando amistosos. O Peru, por exemplo, já se antecipou, marcando confrontos diante de Holanda e Alemanha. Além dos peruanos, apenas Jordânia, Catar e Estados Unidos conseguiram se infiltrar nas datas de amistosos disponíveis para seleções europeias até o fim da primeira fase da Liga das Nações 2018/19. Os outros amistosos marcados são apenas entre europeus. E o torneio, aprovado em dezembro de 2014, já gerou consequências fora da Europa, com a CONCACAF seguindo o exemplo e decidindo, em 2017, que também fará sua versão a partir de 2019. Caso ambas as competições funcionem, é possível que a tendência se consolide: menos jogos intercontinentais e mais partidas entre seleções da mesma confederação, porém, a maioria com caráter competitivo.


UEFA Nations League Draw 2017
Para muitos, a competição é um sucesso antes mesmo de começar; mas desde já é possível ver problemas a serem solucionados no futuro. (Divulgação/UEFA)

Três finais de Copa 100% europeias em quatro edições, como ocorre desde 2006, é algo inédito no pós-Guerra. Entretanto, já ocorreu, considerando o antes e o depois da paralisação por conta do conflito. Inclusive, como não houve final em 1950, o primeiro Mundial após a II Guerra, pode-se dizer que a Europa já teve três decisões seguidas só suas (embora não em Copas consecutivas): Itália vs Tchecoslováquia em 1934, Itália vs Hungria em 1938 e Alemanha Ocidental vs Hungria em 1954.

Os melhores ranqueados da Liga das Nações que não se classificarem para a Euro pelas eliminatórias ainda terão uma nova chance, participando da repescagem em março de 2020. Algo parecido deve ocorrer para a Copa do Mundo, na temporada 2020/21 do novo torneio, embora ainda não haja confirmação – o formato final das eliminatórias da UEFA para 2022 não foi definido. Mas de cara, há um argumento importante a ser feito sobre a mudança liderada pelo presidente Aleksander Čeferin, mesmo argumento que já foi usado para criticar mexidas que o ex-presidente Michel Platini fez na Liga dos Campeões: com a possibilidade de uma seleção da Liga D se classificar para a Euro, não haveria um caráter eleitoreiro na medida?


A resposta, certamente, é que sim. E não apenas aí; há muitos problemas no formato, como os grupos de três times e o risco do jogo de compadres na rodada final, além da possibilidade de um país fazer campanhas vexatórias tanto na Liga quanto nas eliminatórias e, ainda assim, herdar uma vaga nos playoffs. Ou, caso um time caia, suas chances de classificação na próxima edição podem aumentar por jogar em uma divisão inferior. A proposta está longe do ideal. Entretanto, ficou claro que não há possibilidade de ser ativado o "botão reset" que o futebol de seleções tanto precisava, e ao buscar ser uma melhoria, a tentativa também tem seus méritos.


Com o novo torneio, o ciclo de Copa europeu passa a ser: Liga das Nações 2018/19, Eliminatórias da Euro 2019/20, Euro 2020, Liga das Nações 2020/21 e Eliminatórias da Copa 2021/22. Ou seja, amistosos só em rodadas de folga pelas competições oficiais ou no período pós-eliminatórias que antecede a Copa do Catar.

Para o Brasil, a consequência pode ser imediata, com menos jogos contra seleções europeias de alto calibre. A CBF, inclusive, tentou barrar a competição. Entretanto, no último ciclo, o Brasil disputou apenas quatro jogos contra rivais europeus de 2014 a 2017. Foi só na reta final de preparação para a Copa, já neste ano, que a seleção emendou partidas consecutivas contra Rússia, Alemanha, Croácia e Áustria, dobrando este número. Ou seja, o problema já está muito mais no planejamento da CBF do que na disponibilidade dos times da Europa. Se o abismo financeiro só tem aumentado, e isso contribui demais para a prevalência futebolística do Velho Mundo, a distância entre as gestões também não é pequena; pelo contrário.


O certo é que, para Aleksander Čeferin, o presidente da UEFA, a mudança é parte da busca pela manutenção e ampliação do predomínio europeu no futebol mundial, tanto de clubes quanto de seleções. E com o retrospecto recente, a Europa já sai na frente para o Mundial de 2022. Os outros que corram atrás.

 

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