Andrés Sanchez: futebol e política, erros e acertos
Presidente do Corinthians chega aos 55 anos com história de conquistas e controvérsias.

O ano de 2011 estava apenas começando, e o Sport Club Corinthians Paulista já encarava uma tarefa importante. Nas fases iniciais da Libertadores, o Timão tinha pela frente o Tolima, da Colômbia, e era tido como o favorito para se juntar ao grupo de Cruzeiro, Estudiantes e Guaraní. Nunca, afinal, um clube brasileiro havia sido eliminado da competição continental sem disputar a fase de grupos – desde que o sistema de playoff classificatório fora criado, em 2005. A responsabilidade da equipe paulista era grande, o que fez do empate sem gols no Pacaembu, na partida de ida, decepcionante. O time de Ronaldo e Roberto Carlos precisava entregar mais. A chance era no jogo decisivo, em Ibagué. Sem o lateral-esquerdo, lesionado, e com muita pressão, o técnico Tite levou uma formação mais conservadora para a Colômbia, sacando o meia Bruno César e lançando mão do volante-revelação Paulinho. Não deu certo.
O Timão foi dominado no primeiro tempo e voltou nervoso para o segundo. Aos 20', justamente quando a equipe parecia se encontrar (tardiamente) no jogo, o Tolima abre o placar. Tite reage rápido, colocando Danilo e Ramírez no lugar de Paulinho e Dentinho. O Corinthians precisava de um gol. Mas o que veio foi uma cotovelada. Dois minutos após entrar, Ramírez foi expulso, e o jogo acabou ali. Ainda saiu mais um gol dos colombianos e a torcida local chegou a cantar "olé". Tolima 2, Corinthians 0. O vexame estava consolidado. E a forma como reagiria o então presidente do clube, Andrés Sanchez, foi definidora para o legado dele, para o futuro próximo do time e para a história do Corinthians. Sanchez, que faz hoje 55 anos de idade, não era mais o mandatário do Timão na tão sonhada conquista da Libertadores no ano seguinte. Porém, a confiança no projeto campeão que estava sendo montado foi o alicerce de uma das décadas mais vitoriosas da história do clube.
Quando Andrés Sanchez chegou ao cargo máximo do Corinthians, o momento era totalmente inverso. Ele havia sido vice-presidente de futebol da gestão de Alberto Dualib em 2005, montando uma equipe competitiva e campeã, além de ser figura central da parceria com a MSI – que depois foi acusada de investir renda de fontes desconhecidas no clube e usá-lo para lavagem de dinheiro. Assim, Sanchez acabou tendo participação justamente no imbróglio que se tornaria seu maior obstáculo quando presidente: eleito em outubro de 2007, assumiu um time fraco e um clube que tinha multiplicado as dívidas. Só a quebra com a empresa russo-iraniana deixou um rombo de quase 100 milhões de reais e o clube parou até mesmo de pagar impostos. E menos de dois meses depois da eleição, sem ter muito o que fazer, Andrés viu o Corinthians ser rebaixado pela primeira vez para a Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro.

A partir dali, as principais tacadas (certas e erradas) de Andrés Sanchez passariam a começar fora de campo. O economista Luis Paulo Rosenberg chegou para chefiar o marketing do clube e passou a ser uma referência. Após um ano de calvário na Série B em 2008 – mas que acabou com título e o Corinthians abraçado pelo seu torcedor – muitos dos negócios passaram a envolver exploração pesada do potencial de mídia do clube, em troca de apoio empresarial para voltar a formar uma equipe competitiva. Foi assim que Ronaldo foi contratado em 2009, tal como Roberto Carlos em 2010. Finalmente, saiu do papel o tão esperado centro de treinamento, no Parque Ecológico do Tietê. E rapidamente, o Corinthians acumulava uma taça (2009) e um vice-campeonato (2008) da Copa do Brasil, além do título invicto do Paulista (2009).
Na reta final do Brasileiro de 2010, o presidente contratou o maior reforço para o clube nos anos seguintes: Tite. E isso sem ter demitido um único técnico em sua gestão. Nelsinho Baptista saiu após o fim do contrato; Mano Menezes passou dois anos e meio no comando e depois foi para a seleção; e finalmente, Adílson Batista pediu demissão após resultados fracos. Andrés Sanchez seguiria até o fim de sua gestão sem mandar um treinador embora. Mas o anúncio de Tite não foi o único importante: meses antes, às vésperas do centenário do Timão, o mandatário anunciou oficialmente a construção da Arena Corinthians, em Itaquera, estádio próprio e um dos grandes sonhos do clube e da torcida. O novo palco alvinegro, entretanto, também tem seu lado de pesadelo.
Para ter sua nova casa, o Corinthians contraiu dívida que hoje, já com os juros, passa de 1 bilhão de reais – com Odebrecht, Caixa e BNDES como principais credores. Porém, por incrível que pareça, o maior problema não é o montante, são as parcelas atuais: 6 milhões de reais por mês, supostamente para que a dívida seja sanada o mais rápido possível. Quando isso será, difícil saber. Há previsões otimistas de doze anos (incluindo do próprio Andrés Sanchez), mas também há expectativas de quase trinta anos. Mesmo se for mantida uma liberação anual dos Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento (CID) por parte da Prefeitura de São Paulo, importante injeção financeira à qual o Corinthians tem direito. A ideia original, de que a própria Arena geraria receita suficiente para "se pagar", simplesmente ainda não aconteceu. E o estádio se tornou um dos legados mais representativos de Andrés: conquista histórica, mas envolta por contestações e incertezas. Desde o início das obras, afinal, o presidente esteve à frente da gestão da Arena. E deixou o cargo apenas após a Copa de 2014, muito depois de seu mandato acabar, no fim de 2011.
Como presidente do Timão, Andrés conquistou cinco títulos: Série A (2011), Copa do Brasil (2009), Série B (2008) e Paulista (2009, 2018). Mas muito do seu trabalho foi fora do campo.
Naquele 2011 definidor, aliás, Andrés bancou Tite inúmeras vezes: depois da queda para o Tolima, após a perda do Paulista diante do Santos e em momento turbulento (de apenas duas vitórias em oito jogos) na Série A. O clube acabou campeão brasileiro. E se Sanchez não demitiu um treinador sequer durante sua primeira passagem pela presidência do Corinthians, o mesmo não pode ser dito sobre o momento atual. Antes de voltar para 2019, o técnico Fábio Carille tinha ido embora em maio, mas seus dois sucessores não agradaram a diretoria. Pode ser argumentado que Osmar Loss não foi demitido do clube, já que voltou a ser auxiliar técnico, mas, assim como Jair Ventura, ele foi tirado do cargo. Agora, o Corinthians começa a se preparar para um 2019 menos turbulento, investindo em inúmeras contratações; mas fora do clube, o futuro ainda guarda incertezas pesadas para o presidente.
Quando decidiu se candidatar novamente ao cargo máximo do Timão, em 2017, o deputado federal Andrés Sanchez (PT/SP) disse que pediria licença de seu mandato na Câmara caso fosse eleito. Entretanto, devido a impasse entre PT e PDT pela vaga que seria aberta, Andrés segue como membro do Legislativo até hoje. Assim, o mandatário corinthiano mantém o foro privilegiado até 1° de fevereiro de 2019. Só que a decisão de restringir a prerrogativa de foro, tomada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em maio, fez com que as principais acusações contra o deputado – como a de suposto recebimento de vantagens da Odebrecht em 2014 – já tenham "caído" para a primeira instância. Ainda neste ano, Andrés Sanchez virou réu, acusado de crime tributário. O inquérito do caixa dois ainda é analisado pela Justiça Federal de São Paulo, mas o presidente diz dar "risada" sobre o assunto. Está preocupado é com o Corinthians.
Em 2018, o time foi campeão paulista e vice da Copa do Brasil, mas sofreu na Série A. O ano não foi de risada nem de choro, talvez de um sorrisinho amarelo. Mais ou menos como quando o Timão foi campeão da Série B, com Andrés presidente, há dez anos. No ano seguinte, título da Copa do Brasil e retorno à Libertadores em 2010. Um objetivo como este, entre outros, certamente está no radar para 2019. E quem sabe o aniversariante Andrés Sanchez chegue aos 56 anos, daqui a exatos 365 dias, com mais conquistas e menos controvérsias no currículo.