As derrotas que levaram Warriors e Raptors à final
Em meio a triunfos e viradas emocionantes, finalistas da NBA precisaram perder e aprender.

As finais da NBA chegaram. Não há nada mais importante no mundo dos esportes neste momento do que a definição do campeão da temporada 2018/19 do basquete americano. Porém, apesar de um claro favoritismo por parte do Golden State Warriors, os adversários do Toronto Raptors mostraram que podem ser carne de pescoço para os defensores do título. Será? É nestas horas que vem aquela análise do que cada time fez na pós-temporada, mas proponho uma ideia diferente. Talvez avaliar os louros das vitórias não seja o principal. Talvez seja nas derrotas que esteja o segredo para que se entenda onde cada time cresceu no mata-mata. Então vem comigo pelo lado obscuro dos playoffs.
Os Warriors sempre chegam com toda a pressão de atuais campeões e melhor campanha da liga, então qualquer coisa que não fosse um passeio no parque já despertava dúvida sobre o time de São Francisco. Já viu então o rebuliço que foi para explicar uma derrota para o Los Angeles Clippers, o último classificado para os playoffs.
Mas talvez a derrota para os Clippers tenha sido a mais importante na análise dos Warriors até aqui. Quando se é o melhor há tanto tempo, é possível se desacostumar a olhar para trás e ver quem está no retrovisor. A soberba já fez de Golden State uma vítima quando o time tomou a histórica virada nas finais, quando vencia a série sobre o Cleveland Cavaliers por 3 a 1.
De lá para cá, o time parece ter amadurecido como um todo, mas durante a própria temporada era inegável um certo nariz empinado durante as "partidas menores" e contra o Clippers não foi diferente. Até metade do terceiro quarto, a equipe auriazul chegou a abrir 31 pontos de diferença para Los Angeles, só que a displicência custou caro daquele momento em diante. Os azarões pontuaram acima dos 40 pontos nos dois tempos finais da partida e superaram os adversários ainda no tempo regulamentar, dentro da Oracle Arena.
Claro que isso ativou todos os tipos de gatilho que a mídia precisava para levantar questionamentos sobre a tal qualidade do time. E também, é claro, não demorou muito para que isso virasse passado com o fim da série em 4 a 2. A segunda derrota talvez tenha um valor menor por ter sido um jogo parelho, após Golden State ter vencido duas partidas como visitante. Mas é importante ressaltar a diferença de esforço dos Clippers para passar dos 100 pontos, enquanto os Warriors fazem parecer um treino.
A sequência seguinte parecia ser a mais interessante, porém o confronto com os maiores rivais da conferência, o Houston Rockets, pouco fugiu do roteiro. Essa série abriu um debate muito grande sobre arbitragem e como o time de Golden State manipula as marcações a seu favor, mas não de uma maneira ilegal. O time simplesmente sabe fazer com que o adversário se desespere a ponto de tornar o jogo mais físico e permitir que a falta aconteça.
Isso também levanta a questão do protecionismo da arbitragem para times favoritos e com grandes astros. Com placares apertados nas vitórias dentro de casa, o time da Califórnia levantou dúvidas: conseguiria vencer o maior obstáculo da pós-temporada sem um "apito amigo"? De fato não saiu com resultados positivos nas primeiras visitas ao Texas, mas manteve o jogo físico para ganhar o confronto.

A tática dos Warriors de levar o adversário ao limite, mesmo na derrota, deixou os Rockets extremamente cansados, com seus pilares jogando no sacrifício, tornando mais fácil um novo 4 a 2 no caminho para a final. Como numa partida de xadrez, os Warriors sacrificaram alguns peões para derrubar o rei.
Eu até gostaria tratar das derrotas de Golden State para o Portland Trail Blazers, pena que não houve nenhuma. Sim, estou de olho em você, Damian Lillard.
Do lado leste da conferência, a surpresa. Os Raptors chegam à final após ficarem na segunda posição na temporada regular, com os holofotes todos focados no queridinho Milwaukee Bucks.
Em um começo meio morno, Toronto cedeu seu primeiro mando de campo para o Orlando Magic, apenas para vencer as quatro partidas seguintes, quase como um aquecimento. Mas a vitória do time da terra do Mickey mostrou que havia muito o que melhorar na equipe dos Raptors como um todo. As limitações de qualidade do próprio Magic não exigiram muito, só que a necessidade de subir um degrau logo chegaria, diante dos adversários seguintes.
Terceiro colocado do leste, o Philadelhia 76ers não chegou para brincadeira e impôs uma derrota no segundo jogo, em pleno território canadense, e ainda emendou uma vitória na Pensilvânia, deixando uma pulga atrás da orelha sobre a equipe de Kawhi Leonard. Claramente a melhora marginal contra Orlando não seria o bastante para passar por um time do calibre dos 76ers. A dependência do jogo passar sempre pelas mãos de Leonard tornaram o time vulnerável e previsível. Em uma evolução da tática coletiva, Toronto aprendeu e conseguiu se impor diante do desafio e levar a série ao sétimo jogo. Apesar dos vacilos, as derrotas dessa disputa se deram por muito mérito de Philadelphia, que também poderia facilmente chegar à final.
A grande surpresa ainda estaria por vir, afinal jogar contra os queridinhos da conferência significa ser jogado para escanteio, virar coadjuvante na narrativa midiática. Isso aumentou com duas vitórias seguidas dos Bucks no início da disputa. Mas enquanto o jovem Antetokounmpo ainda está indo na padaria, Kawhi já está na mesa, com a manteiga no pão e um cafezinho na mão. A experiência de alguém que passou pela pressão dos playoffs e, mais ainda, por dolorosas derrotas na pós-temporada, ajudou demais os Raptors a anularem as principais jogadas dos Bucks e utilizarem o nervosismo de novato a seu favor. É até difícil conceber que foram quatro vitórias seguidas, mas essa impressão vem justamente pois os Raptors deixavam que a posse de bola, o tique do relógio e a pressão da torcida funcionassem como um jogador a mais em quadra. Se até essa série houve toda uma evolução tática, foi contra os Bucks que Toronto evoluiu demais psicologicamente.
Na noite desta quinta-feira (30), tudo isso estará em quadra, mas só vale até a bola subir. A partir daí, vira um novo tabuleiro de xadrez, onde cada peça evolui do seu jeito. No fim das contas, como sempre, os vencedores somos nós, que poderemos acompanhar mais uma série de jogos espetaculares.
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