Ascensão (e queda?) da Copa Verde
Cinco anos depois da primeira final, torneio regional agoniza em um poço de incertezas.

Alguns poucos olhares atentos ficaram sobressaltados no dia 3 de outubro de 2018, quando a CBF divulgou o calendário oficial do futebol brasileiro para a temporada de 2019. Se já havia expectativa de mudanças após o fim dos canais Esporte Interativo – importante parceiro financeiro e midiático da competição –, a total ausência da Copa Verde do cronograma da entidade máxima do futebol nacional também não era esperada. Com apenas cinco edições desde a criação do torneio, a conta parecia ter chegado cedo demais. No mesmo calendário também não constava a Copa do Nordeste, apenas para ser adicionada cerca de uma semana depois. Até agora, o mesmo não ocorreu com a irmã caçula. O fim do primeiro semestre se aproxima rapidamente, os estaduais já estão acabando, e o silêncio institucional da CBF sobre a Copa Verde é ensurdecedor. Talvez pior do que virar história seja agonizar no limbo, sem saber se é história ou realidade.
E sim, a competição passou por sua cota de problemas desde o ano inaugural, em 2014. Audiência decepcionante, estádios esvaziados, decisões levadas ao tribunal, falta de apoio... Mesmo com tudo isso, a Copa Verde criou uma mitologia própria muito rapidamente. As finais, em especial, quase sempre foram memoráveis. Brasília e Cuiabá viraram de forma heroica sobre Paysandu e Remo, respectivamente, em 2014 e 2015, enquanto o Gama chegou a ameaçar o mesmo contra o Paysandu em 2016, com muita emoção no fim. A última decisão, em 2018, teve o Atlético Itapemirim fazendo história como o primeiro clube capixaba a disputar uma final acima do nível estadual. Isso para não falar das três semifinais seguidas de confrontos entre a dupla Re-Pa, com direito a virada do Leão nos pênaltis e duas classificações do Papão. Realmente é cedo para o fim. Há exatos cinco anos, apenas, Brasília e Paysandu abriam a primeira final de Copa Verde.

Este texto não é necessariamente sobre aquela decisão, embora haja muito a ser discutido quanto à ela. Já no jogo de ida, naquele 8 de abril de 2014, o Papão precisou virar sobre o Colorado para vencer por 2 a 1 e levar uma vantagem à Brasília – onde a torcida bicolor fez seu papel, invadindo o Mané Garrincha, que teve público de mais de 50 mil, de longe o maior da história da competição. O Paysandu fez gol na reta final e perdeu o jogo de volta por 2 a 1, levando a decisão para os pênaltis, mas a vitória do Brasília ainda foi ao tribunal por problemas na documentação de jogadores. Com o título, o Colorado teve participação histórica na Copa Sul-Americana de 2015, chegando às oitavas de final. O Cuiabá, campeão de 2015 após virada incrível diante do Remo, não teve a mesma sorte no torneio continental em 2016, pegando a futura campeã Chapecoense logo no primeiro confronto. A vaga para a Sul-Americana, inclusive, marcou negativamente a Copa Verde.
Talvez tenha sido o começo do fim. É inegável que havia um componente atrativo na competição, além do título, oferecer aos clubes a oportunidade de, em muitos casos, participar de campeonato internacional pela primeira vez. Inclusive por conta das baixas premiações financeiras: em 2018, o campeão Paysandu levou 180 mil reais pelo título. Eliminados na primeira fase embolsaram 15 mil. Não é exatamente um torneio muito rentável. Ir à Sul-Americana, por outro lado, para clubes desta prateleira, faz toda a diferença. Em 2019, mera participação na primeira fase rende 300 mil dólares aos times; mais de 1 milhão de reais. E foi em 2016 que tudo mudou. Pior ainda, foi já com a Copa Verde encerrada e o campeão, por regulamento, com a vaga na Sul-Americana de 2017 garantida. A reformulação da Conmebol solapou os direitos adquiridos no campo pelo Paysandu e também pelo Santa Cruz, triunfante na Copa do Nordeste.
A primeira edição da Copa Verde, em 2014, também não entrou no calendário oficial da CBF, divulgado no final de 2013. Porém, foi rapidamente confirmada e oficializada, ocorrendo desde fevereiro e culminando na final entre Paysandu e Brasília, cujo jogo de ida completa cinco anos nesta segunda-feira (8).
O toma-lá-dá-cá para os campeões dos dois regionais, que se mantém até hoje, foi uma vaga direta nas oitavas de final da Copa do Brasil no ano seguinte. Prêmio de consolação a contragosto de Papão e Cobra-coral para 2017, conquistado também pelo Luverdense para 2018 e novamente pelo Paysandu para este ano. A compensação financeira é muito boa, pelo menos, em especial com o aumento recente do montante da Copa do Brasil. Em 2019, por entrar diretamente no meio dos 16 melhores, o bicolor da Curuzu recebe 2,4 milhões de reais. De certa forma, portanto, a Copa Verde segue valendo muito, ainda que seja por tabela. Para buscar mais independência, o torneio precisa de parceiros comerciais fortes; perder os canais Esporte Interativo foi um ponto central para a crise instaurada atualmente. Desde janeiro, a CBF vem dando garantias extraoficiais de que o torneio ocorrerá no segundo semestre. E não saiu disso.
Cinco anos após primeira final, a Copa Verde deveria estar à beira de sua sexta decisão, mas não é nem certo que será realizada. Até hoje, todas as edições do torneio começaram no fim de janeiro ou no início de fevereiro, terminando sempre no fim de abril ou no início de maio. Desta vez, o fim do primeiro semestre está próximo, o maior torneio nacional chega para tomar conta do calendário e a CBF está calada sobre a Copa Verde. E a própria realização da competição no segundo semestre, caso ocorra, disputará justamente com o Campeonato Brasileiro, que muitos times participantes têm como principal meta – além da fase aguda da Copa do Brasil, que terá o Paysandu, por exemplo, atual campeão do regional. O limbo em que a Copa Verde se encontra dificulta o planejamento dos clubes e, se ainda não é certeza de encerramento precoce, já causou um grande baque na projeção e na credibilidade de um campeonato promissor.
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