Em 1994, Ferroviário iniciou rota ao FerroBiário
Há exatos 25 anos, revés levou ao caminho de taças estaduais, as últimas do clube até agora.

Na década de 1980, o Ferroviário Atlético Clube frequentou a Série A do Campeonato Brasileiro. Nunca com grande destaque, é verdade, até por conta da diferença enorme de investimento e de um futebol moldado para as equipes do Sul e do Sudeste, mas o Ferrão esteve lá. Entre 1979 e 1984, foram seis participações na Elite. O título cearense de 1979, é claro, também contribuiu para o bom momento que o time carregou por alguns anos. Após participações malsucedidas na Segundona e ausência da Copa União, em 1987, o escrete cearense disputou a Série C pela primeira vez na sua história em 1988 – ano em que também foi campeão estadual. Parecia o fim do ciclo. O Ferroviário redimensionava suas expectativas. Desde 1991, nunca mais esteve nas duas principais divisões do Brasil. Em 2019, busca o retorno. Faz campanha boa, ainda que turbulenta, mas surpreende o país, tendo acabado de subir da Quarta Divisão, com a taça de 2018.
É um longo calvário, mas foi muito, muito pior. Se dos anos 1990 para cá o Ferrão já bateu na trave algumas vezes, ficando entre os sete melhores da Série C em três oportunidades, sem o acesso, a última década foi especialmente cruel com a torcida coral. De 2010 a 2017, oito temporadas sem divisão e até mesmo com rebaixamento: dois anos na Segundona cearense, a subida vindo apenas por desistência de rivais. A volta foi meteórica, com vice estadual, vaga na Série D, título e acesso à Terceirona... Porém, o torcedor do Tubarão da Barra não esquece o quanto sofreu, em especial no próprio Ceará. Até os quatro vices do período são difíceis de engolir. Mas as adversidades estão na história do Tricolor. Há exatos 25 anos, em 28 de julho de 1994, o Ferroviário perdia uma semifinal de turno para o Guarany de Sobral, em caminho tortuoso à taça de 1994, que viraria bicampeonato em 1995. As últimas vezes que o clube foi campeão cearense.

Até 2018, na verdade, os títulos estaduais de 1994 e 1995 eram as últimas conquistas do Ferrão, ponto. O retorno à Série D – a equipe tinha disputado a edição inaugural, em 2009 – foi com título, o primeiro nacional do Ferroviário. Além disso, levou a Taça Fares Lopes e, já em 2019, a Copa dos Campeões Cearenses, sempre sob a batuta do técnico Marcelo Vilar, hoje no São Caetano, e Edson Cariús, artilheiro de confiança. Naquele longínquo estadual de 1994, o time também contava com um goleador nato: Batistinha, que marcou 20 dos 81 gols da campanha campeã. Naquela fatídica semifinal, o gol não saiu. E o Tubarão perdeu a chance de ir à final do segundo turno para, quem sabe, vencer todas as fases e ser campeão incontestável. A taça do primeiro turno já fora tranquila, após semifinal contra o próprio Guarany de Sobral e goleada na finalíssima diante do Itapipoca. E no segundo turno, o time chegou ao mata-mata invicto. Perdeu.
A vitória por 1 a 0 deu ao Guarany a vaga na final, em que caiu diante do Ceará. Segundo as regras, a partir daquele momento o time do Ferroviário já sabia: se vencesse o terceiro turno, disputaria um Clássico da Paz na decisão contra o rival alvinegro da capital. Era um objetivo totalmente possível para a equipe que tinha a melhor campanha geral, líder em aproveitamento dos dois turnos que já haviam sido disputados. Desde o início, digamos assim, o Campeonato Cearense de 1994 era o campeonato do Ferroviário. A questão era levar isso até o fim. E com a exclusão do Guarani de Juazeiro no meio do torneio, por não comparecer a um jogo, a disputa mudou para o turno decisivo. Todos continuavam jogando contra todos, mas agora não mais divididos em grupos, com os dois melhores passando. Era um grupo único que classificava os quatro primeiros. Ceará, Fortaleza, Guarany de Juazeiro, Icasa... Todos lutando para desbancar o Ferrim.
A campanha do Peixe no Cearense 1994 teve 37 jogos. Foram 21 vitórias, 13 empates e 3 derrotas, com 81 gols marcados e 24 sofridos. O time-base era: Dênis; Caetano, Batista, Aldo, Branco; Lima, Nasa, Acássio, Basílio; Cícero Ramalho, Batistinha. Téc.: César Moraes (na reta decisiva).
Foi difícil, é claro. Não haveria de ser fácil. Muitos empates, derrota inesperada para o Tiradentes... O time coral viveu as adversidades de sempre. Mas lembrou do início do torneio, em que demorou três jogos para conseguir a primeira vitória. E em reta final com tabela ingrata, venceu o algoz Guarany de Sobral, empatou com o Fortaleza e bateu o Ceará. Líder de novo. Na semifinal, foi a vez do Itapipoca cair. E na decisão do terceiro turno, um prelúdio do que ocorreria na finalíssima do campeonato, o Ferroviário venceu o Ceará por 2 a 0 na volta, após empate de 1 a 1 na ida. Se não fosse pelo Guarany, naquele 28 de julho, o Peixe poderia ser campeão cearense de 1994 antecipado, engolindo três turnos. O domínio era justo e merecido. Além de Batistinha, a equipe tinha Nasa em grande fase e um Acássio inspirado na criação. Porém, por conta daquela semifinal perdida, ainda tinha um novo encontro pela frente, diante do mesmo Ceará.
O empate, é claro, dava o título ao Ferrão. Anticlímax? Talvez para alguns. A final sem gols foi comemorada pelos erreveceanos como se fosse o último título da história. É claro que não foi, já que no ano seguinte, com roteiro bastante parecido e parte da base de 1994 mantida, o clube conquistou o bi: também após empate sem gols na finalíssima, desta vez diante do Icasa, e também após vencer dois turnos e perder um. Era um torneio mais inchado e a campanha foi ainda mais brilhante, com um Robério que marcou 26 gols. Porém, o alicerce fora construído no ano anterior. O ano do FerroBiário, como 1995 passou a ser conhecido entre a torcida, não seria possível sem a conquista dura que o precedeu. Em 1994, o trio ABC (Acássio, Batistinha e Cícero Ramalho) fez mais gols do que o time todo do vice-campeão Ceará. Quanto ao que ocorreu há exatos 25 anos? Às vezes derrotas explicam mais as conquistas do que vitórias.
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