Estaduais podem melhorar crescendo, não diminuindo
Temporada distinta para times sem divisão, fase final no início do ano: um caminho possível.

Nos últimos anos, diversas competições do futebol brasileiro e sul-americano viveram transições de formato e de calendário. A Libertadores passou a durar o ano inteiro, sendo menos espremida; assim como a Copa do Brasil e a Copa Sul-Americana. Antes contidos em menos de um semestre, os torneios, basicamente, evoluíram: na realidade do futebol mundial, campeonatos que duram poucos meses se desvalorizam sozinhos. Com os estaduais cada vez mais curtos, é o que ocorre com o compromisso mais importante da maioria esmagadora dos quase 700 clubes profissionais do país. Após uma certa popularização recente das copas estaduais, talvez o esquema de dez anos atrás fosse até melhor. Os "pequenos" teriam um estadual longo no primeiro semestre e uma copa no segundo; os "grandes" manobrariam competições internacionais e um mata-mata nacional em meio ao estadual, com o Brasileiro brilhando sozinho posteriormente.
Voltar atrás, no entanto, não é uma opção. E, até certo ponto, parece compreensível que os torneios de maior peso ditem o ritmo da temporada. O problema é que cada competição faz o que é melhor para si, incluindo os estaduais. Só que um dos lados parece ter cada vez mais opções para isso, e o outro cada vez menos. A culpa é de todos, que deixaram a situação chegar em ponto insustentável, com times expandindo suas pré-temporadas e jogando com equipes alternativas. Considerando a realidade, porém, está claro que a próxima grande mudança terá mesmo que vir dos estaduais. E há caminhos. O principal parece ser um "espelho" de temporadas. Se o estadual é pré-temporada para quem joga o Brasileiro, ele também pode ser como um Brasileiro para quem não joga. E é possível unir os dois, até para manter a relevância mercadológica atual – e revigorá-la, uma vez que até o interesse televisivo nos estaduais só diminui.

Em vez do Campeonato Paulista 2020 ou do Campeonato Paraense 2020, haveria a edição 2019/20. Duraria mais tempo, permitiria mais vida aos clubes (e a oportunidade de conseguir mais parceiros comerciais), mais estabilidade aos jogadores e teria uma reta final potencialmente emocionante. A temporada, do ponto de vista dos "pequenos", não seria de janeiro a dezembro, mas de maio a abril, por exemplo, o que permitiria inclusive períodos de intertemporada, dependendo do início de cada divisão nacional – e como etapa de transição para os clubes que conquistassem o direito de jogar a Série D no ano seguinte. Enquanto o Brasileiro começa para o topo da pirâmide, a base dela faz sua pré-temporada, com copas estaduais, e depois inicia o estadual. Mais longo, não precisa de divisões, só grupos com mobilidade, para economizar investimento em logística. A chave mais competitiva avança mais times para a fase final, assim por diante.
Como a mudança afetaria somente os estaduais, talvez fosse necessário menos tempo de adaptação do calendário, apenas para o planejamento dos clubes participantes. As diferentes chaves da primeira fase podem ter vagas diretas e vagas de playoff para a fase final, cujo formato pode ser parecido com os atuais, o que não afetaria os "grandes".
O esquema é possível de aplicar nas realidades diferentes de cada estado. O futebol paulista, por exemplo, tem 10 clubes disputando as três principais divisões nacionais. O formato que permitiria a entrada deles no campeonato a partir de janeiro seria, obviamente, bem diferente do Pará, que tem apenas 2. Há também disparidade na quantidade de equipes nos grupos da fase inicial, que poderia durar mais de seis meses. Normal. Nada diferente da situação atual, que já demanda muito ajuste. Ou melhor, muito diferente, mas em outros aspectos: uma temporada potencialmente mais justa e equilibrada, em uma visão holística para o futebol nacional. Estaduais interessantes, fases finais com times mais preparados, que por sua vez elevariam o nível também da Série D, quando se classificassem. Se os "grandes" precisam de menos datas e os "pequenos" precisam de mais, há como fazer. É só planejar e ter vontade política para isso.
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