Gabriel Badilla foi cedo, mas ficou para sempre
Zagueiro costarriquenho não viveu para fazer 35 anos neste 30 de junho, deixando legado.

Em março de 2018, o Mundo se consternou com a morte repentina e inesperada do zagueiro Davide Astori, capitão da Fiorentina e membro da seleção da Itália, em pleno hotel da concentração do time viola, antes de partida contra a Udinese, pelo Campeonato Italiano. Partidas adiadas, comoção geral e muitas homenagens, como o zagueiro de fato merecia. E mesmo se não merecesse, as mortes de atletas, muitas vezes no auge de suas capacidades físicas e técnicas, são sempre sentidas dentro do esporte. Talvez Marc-Vivien Foé, o camaronês que se foi durante a semifinal da Copa das Confederações de 2003, ante a Colômbia, e Serginho, do São Caetano, morto em partida diante do São Paulo, pelo Campeonato Brasileiro da Série A, protagonizem os casos mais divulgados no Brasil. Porém, infelizmente, o falecimento de futebolistas supostamente saudáveis durante partidas, treinamentos ou até fora dos gramados, não é algo novo – nem mesmo raro.
Desde o fim do século XIX, quando o futebol começou a se profissionalizar no Reino Unido, há registros de jogadores morrendo em tais circunstâncias. Ou seja, existe praticamente desde que o esporte em si existe: o primeiro conjunto de regras do futebol data de 1848. Recentemente, atletas como Daniel Jarque, Antonio Puerta e Cheick Tioté, embora com menos mídia, tiveram o mesmo destino de Foé e Serginho. Isso para falar apenas de jogadores que desempenhavam atividades físicas imediatamente antes de suas mortes. Andrés Escobar foi assassinado em 1994, Robert Enke se suicidou em 2009, Thalles e José Antonio Reyes sofreram acidentes em 2019, dezenas de atletas de Flamengo e Chapecoense pereceram nas tragédias envolvendo os clubes, respectivamente neste ano e em 2016. Além deles, há inúmeras histórias não contadas. Uma delas é a de Gabriel Badilla, costarriquenho que nascia há exatos 35 anos, em San José, no dia 30 de junho de 1984.

Zagueiro de muita competência, ainda que contestado pela altura, considerada baixa – tinha menos de 1,80m –, Badilla iniciou e terminou a carreira no clube do coração, o Deportivo Saprissa. Um dos mais bem-sucedidos times da Costa Rica, o Saprissa é da própria capital, San José, cidade natal do garoto que se tornaria capitão. Talvez alguns reconheçam o nome da equipe e não lembrem de onde. É que foi com Gabriel Badilla em campo que o Saprissa disputou o Mundial de Clubes de 2005, após vencer a Liga dos Campeões da CONCACAF pela terceira vez na sua história. Nos anos 1990, quando o clube levou dois títulos continentais, não havia Mundial para ir, apenas a Copa Interamericana, contra o campeão da Libertadores. Finalmente, em 2005, teve a oportunidade que já merecera antes. Caiu na semifinal, perdendo para o Liverpool. Na época, Badilla não era capitão. A honra era do goleiro Porras, o que talvez tenha roubado a cena, por ser anedota fácil no Brasil.
Se demorou para deslanchar, a carreira do Gladiador, como ele era conhecido, já começou com destaque. Em 2001, ano em que se profissionalizou, Badilla foi capitão da seleção costarriquenha na Copa do Mundo sub-20. Ele ainda disputaria a Copa de 2006, no time de cima, além de duas Copas Ouro. A carreira com os Ticos poderia ser ainda mais marcante, não fossem algumas lesões do zagueirão. Isso não tirou seu brilho, entretanto. Com o Deportivo Saprissa, El Capitán viveu um dos momentos mais gloriosos da história do clube. Entre 2001 e 2008, período da primeira passagem de Gabriel Badilla, a equipe disputou sete finais continentais, vencendo duas. Foram três decisões de Liga dos Campeões da CONCACAF e quatro da Copa Interclubes da América Central – quem sabe poderiam até ser cinco, com a boa fase da equipe, mas o torneio foi extinto em 2007. Dentro de casa, o Saprissa também comemorava títulos sobre os rivais Alajuelense e Herediano.
Em sua histórica e vitoriosa carreira, Gabriel Badilla conquistou nove títulos da Primeira Divisão costarriquenha com o Deportivo Saprissa, o maior campeão da história do torneio, com 34 conquistas. O capitão esteve presente, portanto, em mais de um quarto das comemorações nacionais de um clube de mais de 80 anos de existência.
Tanto destaque, títulos e liderança fizeram a MLS chamar Gabriel Badilla. Contratado pelo New England Revolution, em 2008, ele fez parte de duas campanhas que chegaram até as semifinais da Conferência Leste. Na Copa dos Estados Unidos, também uma semifinal. As taças não vieram – o time de Boston é conhecido por ser o "time do quase" no futebol da terra do tio Sam – e o defensor não se firmou de verdade. Em 2010, voltou para casa. E os títulos voltaram, incluindo um inédito: a Copa da Costa Rica, em 2013. No entanto, foi em 2013 que a vida de Badilla passou pelo primeiro alerta. Ele precisou de cirurgia cardíaca, após descoberta de um tumor benigno. Bem-sucedido, o procedimento fez os médicos liberarem o atleta para seguir a carreira. E o capitão seguiu mesmo, emocionando os torcedores do Deportivo Saprissa. Após vencer a edição de inverno da Primeira Divisão em 2015, Badilla anunciou a aposentadoria para 2016.
Não, Gabriel Badilla não morreu com a carreira em andamento. Ele conseguiu se aposentar, organizando até mesmo uma partida de despedida. Foi comemorado como merecia e se tornou dirigente do clube. Ele ainda tinha, no entanto, 32 anos. Poderia muito bem continuar em campo, como vários colegas fazem. As lesões e a cirurgia o fizeram parar cedo, embora estivesse liberado para o esporte de alto rendimento. E foi por conta disso que, poucos meses após a aposentadoria, Badilla participou da corrida de Lindora, uma prova de rua de 10km nas proximidades de San José. A 200m da linha de chegada, a força do Gladiador chegou ao fim. Ele passou mal e caiu, devido a parada cardiorrespiratória. Não foi possível reanimá-lo. Nunca mais levantou. Era 20 de novembro de 2016. Gabriel Badilla não chegou aos 35 anos, que completaria exatamente neste 30 de junho de 2019. Mas conquistou muito mais do que cabia em 32 primaveras. E sua história merece ser lembrada.
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