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Mundial de Clubes: um esboço que durou décadas

A ambição de nomear o melhor time do mundo vem do século XIX; e foi um caminho sinuoso.


No último sábado (22), o Real Madrid bateu o Al Ain, para a surpresa de ninguém, e levantou a taça do Mundial de Clubes pela terceira vez seguida, um feito até então inédito. Os bicampeões consecutivos Milan, Internazionale, São Paulo e Santos ficaram oficialmente para trás. Porém, o Real Madrid já era o maior vencedor da competição, com seis títulos, e o sétimo apenas ampliou a vantagem sobre o Milan (que tem quatro). Nas últimas cinco edições do torneio, só em uma o clube espanhol não terminou com as glórias. Mas espera aí... Tri ou bi, número de títulos, hegemonia, lista dos campeões... De onde se tira isso? Quais campeonatos "valem" como Mundiais? Nos últimos anos, assim como no âmbito brasileiro – com a unificação do Robertão e da Taça Brasil –, tais questionamentos se tornaram cada vez mais comuns.


A rigor, a FIFA considera Mundiais de Clubes apenas as competições de caráter global organizadas pela própria entidade. Ou seja, a edição inaugural vencida pelo Corinthians em 2000 e, a partir de 2005, as edições anuais que substituíram a Copa Intercontinental, vigente desde 1960. Os títulos mundiais clássicos, inclusive contabilizados nos números do parágrafo acima, foram reconhecidos em 2017, mas não unificados. Até porque, de fato, o primeiro torneio de escala global com representantes de todos os continentes foi o de 2000. É neste motivo que se agarra a FIFA para usar o termo "título simbólico" para os campeões mundiais anteriores. Portanto, reconhecidos – até pela força política de UEFA e Conmebol–, mas não referendados. Afinal, houve outras competições que também envolviam apenas dois continentes: como a Copa Afro-Asiática.


Para não entrar tão fundo na toca do coelho e se perder lá dentro, sendo cobrada a conferir honras de campeões do mundo a clubes como o Thai Farmers Bank, a entidade máxima do futebol decidiu não unificar. Reconhece todos os títulos oficiais, mas não os chama de "Mundiais". A Copa Afro-Asiática, por exemplo, foi um torneio oficial da CAF e da AFC. A FIFA usa palavras como "internacionais" e "intercontinentais" para se referir a tais campeonatos, mas jamais os iguala ao seu Mundial. Entretanto, não é necessário puxar tão fundo na memória para lembrar que, à época, os jogos dos clubes brasileiros na Copa Intercontinental sempre foram encarados como decisões de título mundial. Fingir que não seria tentar reescrever a história. É com base neste argumento que outros torneios poderiam facilmente ser alçados à condição de copas mundiais. Talvez não chancelados pela FIFA; mas a Copa Intercontinental, hoje reconhecida, também não era.


Toninho Cerezo comemora o segundo gol do São Paulo diante do Milan, em 1993, na última vez que um clube brasileiro foi campeão da extinta Copa Intercontinental: na época, sem dúvida alguma, um Mundial. (Divulgação/São Paulo FC)

O mais renomado deles é a Copa Rio, reivindicada no Brasil especialmente pelo Palmeiras (campeão em 1951), mas cujo reconhecimento também "beneficia" o Fluminense (1952) e, talvez, até o Vasco, que levantou a taça em 1953 – embora a competição já tivesse mudado de nome e contasse com menos clubes internacionais que as outras edições. Era um torneio oficial, organizado pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD), atual CBF. Alguns anos depois, a contraparte venezuelana também realizou as suas "versões": a Pequena Taça do Mundo, que chegou a ter Real Madrid, Barcelona, Corinthians e São Paulo como campeões; e um Mundialito em formato triangular, que viu Bangu, Botafogo e Cruzeiro saírem vitoriosos, além de Sporting Lisboa e do próprio Real Madrid. Nem todos esses torneios podem simplesmente ser colocados na mesma prateleira, é claro.


O embrião da Pequena Taça do Mundo, por exemplo, foi o Torneio Internacional de Caracas, conquistado pelo Remo em 1950 – apenas contra times venezuelanos. Em 1960, o Bangu foi campeão da International Soccer League, campeonato que contou com Sporting Lisboa e Bayern de Munique – dois anos depois, outro carioca, o América/RJ, venceu o mesmo torneio, já esvaziado, em que os destaques eram Belenenses e Panathinaikos. Algo parecido ocorreu com o Vasco, vencedor do Torneio Internacional de Paris em 1957, diante do Real Madrid de Di Stéfano – na primeira vez em que um clube não-europeu ganhou de um time que era atual campeão da Europa. A contestação sobre a invencibilidade daquele Real Madrid foi um dos pontos-chave para a criação da Copa Intercontinental, três anos depois. Nas temporadas seguintes, entretanto, a competição foi aos poucos deixando de atrair equipes de peso. Ainda assim, outros brasileiros foram campeões, como Santos, Botafogo, Fluminense e Atlético/MG.


A Libertadores só começou a ser disputada em 1960, mas o Campeonato Sul-Americano de Clubes, seu precursor, teve uma edição: a de 1948, vencida pelo Vasco. Enquanto isso, o Real Madrid era bicampeão europeu em 1957. É possível argumentar que a partida entre os dois, em Paris, foi o primeiro confronto entre campeões continentais. Um jogo muito grande e, ainda assim, não exatamente um Mundial.

E estes são só os campeonatos relevantes para a América do Sul. Na Europa, campeões nacionais ingleses e escoceses se enfrentavam desde o fim do século XIX, supostamente para decidir o melhor do mundo. Já a partir de 1908, inúmeros torneios e jogos isolados foram organizados entre clubes de diferentes países da Europa. Times como Sunderland, Servette, Újpest e Wolverhampton podem, se quiserem, bradar por títulos de caráter internacional que os qualificam ao topo do globo. A própria Copa dos Campeões (atual Liga dos Campeões) teve na partida entre os Wolves e o Honvéd, da Hungria, em 1954, um gatilho para ser criada. A equipe que abrigava Puskás e Kocsis, além de quase toda a seleção húngara vice-campeã mundial, perdeu para o então campeão inglês. A repercussão gerou proposta de Gabriel Hanot, ex-jogador da seleção francesa e jornalista do L'Equipe, para uma competição realmente continental na Europa. A partir de 1955, foi disputada a primeira Copa dos Campeões, substituindo a esvaziada Copa Mitropa.


Cada um destes campeonatos (ou mesmo destes jogos) é rico em história. Todos merecem ter seus relatos relembrados individualmente aqui no NesF, inclusive – e alguns certamente terão. Quase todos geraram títulos internacionais (ainda que de tamanhos muito diferentes) e, acima de tudo, foram esboços importantes para montar o torneio que conhecemos hoje. No caso da Copa Rio, ela possui uma precedência histórica sobre as “concorrentes”, é verdade: foi a primeira realmente intercontinental. Talvez por isso a FIFA tenha reconhecido o título do Palmeiras. Porém, Mundiais ou não, muitas dessas conquistas eram, na época, tratadas como competições internacionais de grande importância e foram muito comemoradas pelos torcedores de cada clube – não importa se o futuro se afastou daquele formato ou proposta.


Agora, o Mundial de Clubes está novamente passando por uma transformação; e ainda nem se sabe como ele será a partir de 2019. Nada disso também importa para os fãs do Real Madrid. Pelo contrário: para o clube mais bem-sucedido do mundo, o caminho foi perfeito, por mais sinuoso que tenha sido. O heptacampeonato fala por si.

 

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