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Nem a FIFA sabe o futuro do Mundial de Clubes

Peça-chave no plano financeiro da entidade, torneio tensiona bastidores do futebol global.


Nesta quarta-feira (12), teve início a disputa da competição de clubes mais importante do mundo. Você sabia? Nela, o Al Ain e os neozelandeses do Team Wellington decidiram uma vaga na segunda fase. Melhor para o time dos Emirados Árabes Unidos, que enfrentará o campeão africano Espérance. É isso mesmo. Há apenas três dias, aliás, o River Plate foi campeão sulamericano e se classificou para disputar o mesmo torneio, a partir das semifinais. Bem, talvez seja melhor refrasear: hoje teve início a disputa daquela que deveria ser a competição de clubes mais importante do mundo. A verdade, convenhamos, é que não é. O Mundial de Clubes da FIFA, neste formato vigente desde 2005, empalidece diante da Liga dos Campeões e até mesmo, em muitos casos, da Libertadores. Da mesma forma, é difícil visualizar em 2018 um campeonato no estilo do Mundial de 2000, tão criticado, ou das Copas Intercontinentais – disputadas entre 1960 e 2004, apenas com representantes da UEFA e da Conmebol. Constatar que o certame clama por uma metamorfose talvez seja chover no molhado; o difícil mesmo é saber para qual caminho ele deve ir.


No início deste ano, parecia que FIFA já sabia qual caminho queria: um Mundial de Clubes a cada quatro anos, com 24 participantes e substituindo a Copa das Confederações no calendário, um ano antes do Mundial de seleções. Essa proposta já vinha ganhando tração nos últimos anos. Os campeões seriam "acumulados" por quatro edições das taças continentais, para então se encontrarem em uma competição maior e mais atrativa do que a atual. Azar de quem fosse campeão no início do ciclo, pois possivelmente chegaria ao Mundial tendo desfeito ou perdido boa parte de seu time triunfante; sorte dos campeões mais recentes, que iriam ao torneio em alta. Por esse motivo, entre outros, a proposta foi muito criticada, principalmente pela associação das Ligas Europeias (EL), pelo Fórum Mundial das Ligas (WFL) e pela Associação de Clubes Europeus (ECA). Parte do problema, inclusive, é justamente o que tornaria o campeonato mais atrativo: a expansão. As organizações que lidam, fora das quatro linhas, com o topo da pirâmide do futebol, querem que haja menos jogos para clubes e jogadores, não mais. Difícil culpá-las.


Detalhe da taça que entrou em jogo nesta quarta: com treze anos à frente do torneio, a FIFA só vê seu Mundial de Clubes perder interesse e importância. (Divulgação/FIFA.com)

Muitos dos problemas atuais do futebol têm a ver com o calendário. Não seria diferente para o Mundial. É ainda mais complexo sincronizar clubes, culturas e agendas tão diferentes; seja anualmente, mas com poucos participantes ou a cada quatro anos, mas em um campeonato inchado. Porém, a questão financeira fala mais alto. E a entidade máxima do futebol está disposta não apenas a expandir o Mundial de Clubes, como a criar uma Liga Mundial das Nações, nos moldes da UEFA – o atual presidente da FIFA, Gianni Infantino, era secretário-geral da federação europeia quando a competição começou a ser planejada. Ambas as propostas engordariam substancialmente a conta bancária da FIFA, que hoje em dia é dependente das receitas da Copa do Mundo, especialmente após perder inúmeros patrocínios devido ao histórico de corrupção da entidade. A relutância da FIFA em revelar a origem do financiamento das novas competições assustou até mesmo a UEFA, e Infantino passou boa parte de 2018, sem sucesso, tentando contrapor as inúmeras restrições ao seu plano.


Originalmente, a entidade máxima do futebol decidiria o futuro de sua principal competição de clubes até o início da Copa do Mundo de 2018, na Rússia. Era o prazo dado pelo obscuro parceiro comercial – depois revelado como um consórcio composto por um banco japonês e diversos investidores da China, dos Estados Unidos e da Arábia Saudita. Nada feito. A indecisão adiou o imbróglio para o fim de outubro, durante uma reunião em Ruanda. Nela, a FIFA se mostrou mais flexível: está disposta a manter o Mundial de Clubes como um evento anual, expandindo-o menos do que Infantino gostaria. Ainda assim, representantes da UEFA ameaçaram deixar o evento pela falta de detalhes concretos apresentados, no que veem como “pressa” da FIFA para implantar as mudanças. E de fato, para a chefona mundial do futebol, o tempo urge. Não apenas pela pressão dos investidores, mas pelo seu próprio calendário.


A expectativa de Infantino, caso concretize o plano de fazer as maiores mudanças do século na estrutura do futebol mundial, é gerar no mínimo 25 bilhões de dólares em rendimentos para a FIFA e seus afiliados.

Neste exato momento, no site da entidade máxima do futebol, o calendário previsto para 2019 já está disponívelsem o Mundial de Clubes. Isso não significa que ele ainda não possa ocorrer, é claro. Mas se uma definição rápida demais e pouco debatida seria problemática, a FIFA também não possui o luxo da indecisão por muito mais tempo. Como a Copa das Confederações de 2021 não poderia ocorrer no Catar, por questões climáticas, ela já será transferida para outro país asiático. Em troca, o Mundial de Clubes será realizado no país-sede da Copa de 2022, como evento-teste. Era a forma da FIFA fazer uma transição natural e com muita atenção da mídia. Dependendo do caminho a ser seguido, perder essa janela significaria adiar qualquer mudança para 2025. Entretanto, mesmo se a competição seguir anual, o bom senso diz que os critérios para qualificação precisam ser estabelecidos antes do início das competições que darão vaga para o Mundial, seja para 2019, 2020 ou 2021. E sequer se sabe quais competições serão essas.


A próxima reunião do conselho da FIFA está marcada para março de 2019, em Miami. De lá, podem vir definições ou novos adiamentos. Não há nem mesmo garantia de que sigam interessados os parceiros comerciais que viabilizariam os projetos de Gianni Infantino – daí a impaciência do presidente. O único caminho, por enquanto, parece ser a convicção de que sim, é necessário mudar o Mundial de Clubes. Mas mudar para quê? E como fazê-lo de forma justa, esportivamente atrativa e financeiramente viável? Em tese, há uma força-tarefa na FIFA trabalhando para responder, até março, todas essas perguntas e muitas outras. Enquanto isso, se você gosta do torneio, aproveite o Mundial que começou nesta quarta. Ninguém tem certeza como o próximo será. Nem mesmo a própria FIFA.

 

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