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No Brasil, espremer o calendário já virou costume

Em 2019, Primeira Divisão será paralisada por 25 dias ou mais pela quarta vez em sete anos.


Em outubro de 2018, a CBF divulgou o calendário do futebol nacional para este ano. Com a realização da Copa América de 2019 no Brasil, as duas principais divisões do Campeonato Brasileiro ficarão paradas por mais de um mês. No caso da Série A, é a quarta ocasião nos últimos sete anos em que a competição é cortada em duas partes. Se por um lado é necessário paralisar os torneios para evitar que os clubes sejam desfalcados, o calendário no Brasil já tem dificuldade para abrigar todas as datas quando não há interrupções; com elas, fica ainda mais complicado – e recentemente se tornou rotina apertar ainda mais o que já é bastante espremido. Para a Copa das Confederações de 2013, foram 25 dias de parada; 46 durante a Copa do Mundo de 2014 e mais 36 por conta da edição de 2018; e neste ano, serão 33 dias sem Série A enquanto a Copa América é disputada.


O pior de tudo é que não há bom caminho nas condições atuais. Com cobertor curto, o calendário do futebol brasileiro não funciona para ninguém, da base ao topo da pirâmide. E no caso do topo, por exemplo, as opções são extremamente reduzidas. Tomemos, também, os últimos sete anos como parâmetro. Pode-se argumentar que está sendo um período atípico, com Copa das Confederações, Copa do Mundo, Olimpíadas e Copa América ocorrendo no país. Justo. Entretanto, a equação tem dois problemas extras: um deles é a simples postura, pois o calendário do futebol não pode ser um dos motivos de dificuldade (já há vários) para o Brasil sediar eventos, ele precisa coexistir saudavelmente com tal possibilidade; e o outro é o fato de que nem todas as grandes realizações esportivas recentes podem ser colocadas na mesma cesta.


Rogério Caboclo, eleito no início de 2018, assume a CBF a partir de abril: ajustar o calendário pelo bem dos clubes e do futebol brasileiro será um dos desafios da nova gestão. (Reprodução/CBF TV)

Tentando cobrir a cabeça, é claro, estão a Copa das Confederações de 2013 e a Copa do Mundo de 2014 – além do próprio Mundial de 2018, que não ocorreu no Brasil, mas também paralisa o campeonato. Situações que não desfalcaram os clubes, porém espremeram um calendário que já é semi-inviável em condições normais. Só que há também de se cobrir os pés; e as Olimpíadas de 2016 são o melhor exemplo deste outro lado. A Série A não parou para a competição ocorrida no Rio de Janeiro. E metade dos atletas convocados pelo técnico Rogério Micale jogavam no Brasil. Enquanto as Olimpíadas aconteciam, quatro rodadas do Brasileiro foram disputadas. Mais cedo, no mesmo ano, ocorreram nada menos que seis jornadas durante a Copa América Centenário. E é bom ressaltar que, aqui, se destacam as partidas simultâneas da Série A com tais torneios, mas os clubes perdem seus atletas por mais jogos – não apenas para períodos de treinamento, mas por questões logísticas e de viagens, já que costuma haver rodada literalmente até a véspera.


Não apenas as Olimpíadas se destacam como um evento realizado no Brasil que afetou o calendário de forma diferente dos outros, como a profusão recente de Copas América, dentro e fora do país, deixa claro que o futebol nacional sofre mesmo sem o país sediar eventos. Em 2015, cinco jornadas da Série A coincidiram com o período da Copa América no Chile. Se os desfalques de uma ou duas rodadas para as datas FIFA já assolam os clubes brasileiros, a realidade de perder jogadores por longos períodos de tempo, justamente em um campeonato que tem a consistência como núcleo da busca pelo título, como a Série A, virou um infeliz costume. E não é apenas no âmbito sul-americano: durante a Copa das Confederações de 2017, quatro rodadas do Brasileiro foram disputadas. Passou despercebido, é claro, porque a seleção brasileira não disputou a competição pela primeira vez em 20 anos. Se tivesse disputado...


Um dos motivos para muitos defenderem a reestruturação do calendário nacional para o formato europeu é simplesmente o fato de que pouco se faz para resolver os problemas. A adequação à Europa seria uma espécie de "poção mágica". Não é. Traria outros problemas. Mas o estágio atual também não pode se manter.

Ainda assim, muito do problema tem a ver com a (des)organização de CBF e Conmebol. Uma não consegue evoluir de verdade o calendário do futebol brasileiro além de pequenas migalhas ano a ano; e a outra não decide (ou demora para decidir) de fato o que faz com suas competições, deixando o pepino para os outros. Um claro exemplo dessa parceria de fatores foi o caso do confuso processo classificatório para a ainda espremida Copa Sul-Americana, durante os anos iniciais da Copa do Brasil expandida. No contexto das seleções, já é o segundo ciclo de Copa consecutivo com duas edições do torneio continental. Houve Copa América em 2015 e 2016, haverá neste ano e no próximo – que também é ano de Olimpíada. Ao fim da edicão de 2020, que unificará o calendário com a Eurocopa, terão sido realizadas quatro Copas América em seis anos.


O período entre junho e julho é simplesmente massacrante para o futebol brasileiro. Já há a janela de transferências do verão europeu, que leva muitos dos destaques da Série A. E nos últimos anos, as competições internacionais também se tornaram uma certeza anual. Desde 2013 (e até no mínimo 2022), todas as temporadas nacionais possuem no mínimo uma "perturbação" para chamar de sua – e mesmo 2012 teve a Olimpíada, que pode não ser considerada uma competição profissional, mas também provoca desfalques. Tratando seu próprio futebol desta forma e incapaz de buscar soluções, o Brasil só se limita. Hoje é efetivamente impossível, e não apenas por questões de poder financeiro e qualidade do futebol, que a seleção tenha muitos atletas jogando no país. No período destacado aqui, o ano de 2017 foi o único que não viveu nenhum dos dois problemas: aperto maior no calendário ou desfalques nos clubes por período prolongado; e apenas porque o Brasil não participou da Copa das Confederações.


Sim, junho e julho são difíceis demais para o futebol brasileiro. Mas a própria organização do esporte faz questão de que o período seja ainda pior – e se torne massacrante. Anualmente.


 

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