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O elefante branco chamado Pro Bowl

Jogo das estrelas da NFL precisa de mudança já, mas liga não faz ideia do caminho a ser seguido.


A semana foi puxada. Você trabalhou das 8h às 18h de segunda à sexta e agora merece um descanso. Nada melhor do que dedicar seu sábado a ver uma disputa de habilidades dos melhores passadores e recebedores da NFL, para no dia seguinte poder assistir um jogão com a repescagem dos melhores da temporada, certo? Claro que foi uma pergunta retórica. Esse tipo de coisa só faz sentido no mundo fantástico da própria liga, que considera o Pro Bowl um evento de grande porte, quando na verdade é mero amistoso beneficente ao melhor estilo casados versus solteiros no fim de ano da firma.


Claro que a disputa não foi tirada do nada. O Pro Bowl é disputado desde a fusão da AFL com a NFL, na década de 1970. Pois é, o jogo das estrelas da Liga Nacional de Futebol Americano nasceu em uma era com menos cobertura midiática e muito menos popularidade do esporte.


Quarenta anos atrás, os holofotes sobre a NFL eram completamente diferentes da cobertura massiva que o esporte vê hoje em dia. Uma temporada tão curta quanto a da liga parecia ainda mais rápida e um jogo extra, mesmo que com elementos apenas festivos, soava atraente e até necessário. Além disso, uma partida mais acessível, com jogadores de equipes de todo o país, ajudou os fãs a ficarem mais próximos de seus ídolos. Estamos falando, é bom lembrar, de uma época antes da internet e da exacerbação do culto às celebridades dos dias atuais.


O problema do Pro Bowl em 2019 está justamente na incapacidade de se adaptar às próprias mudanças do esporte. Com uma temporada de embate físico cada vez mais acirrado e desgastante, um jogo a mais com jogadores de equipes que já estão fora da temporada não oferece nenhuma vantagem para quem está participando.


A mudança para o Havaí nos anos 1980 piorou o isolamento do jogo perante seu público. Historicamente um país rodoviário e berço da indústria automobilística, o jogo disputado em Honolulu ganhou uma conotação de férias coletivas dos jogadores, com direito a presença "ilustre" de fãs ricos o bastante para acompanhar a viagem e, de brinde, ver o jogo.


Na tentativa de tornar o evento mais interessante, as disputas de habilidade foram adicionadas, transformando o Pro Bowl em um fim de semana, supostamente, repleto de diversão para toda a família. Mas, ao contrário do All-Star Weekend, o fim de semana das estrelas da NBA, de onde a ideia foi inspirada, o futebol americano simplesmente não cola como exibição de habilidades individuais.


Von Miller, defensor do Denver Broncos, durante o desafio de habilidades de 2019: sim, até queimada tem, reforçando o caráter de gincana. (Logan Bowles/NFL)

Afinal, de pouco importa a precisão olímpica de um QB como Drew Brees, acertando alvos e mais alvos, se durante um jogo não houver bons recebedores para tornar os lançamentos certeiros em jogadas efetivas. Como fazer as lindas recepções de uma mão só sem um QB que lance os passes, ou até mesmo uma corrida dinâmica que não se tornaria realidade sem o trabalho duro da linha ofensiva?


Nas mudanças que de fato foram feitas, a miopia da liga segue presente. A disputa entre as Conferências, que fazia sentido num contexto imediatamente pós-união, deixou de existir, voltou a existir e talvez, hoje, ajuda a tornar ainda mais irrelevante o jogo – embora os times escolhidos por lendas do esporte também não tenham dado certo. Mas o quê, afinal, pode ser feito quando o esporte mais popular dos Estados Unidos tem o jogo das estrelas menos interessante de todos? Esta pergunta, aparentemente, nem mesmo a própria NFL sabe responder.


A solução mais próxima parece tão ineficiente quanto o atual cenário. Uma disputa de terceiro lugar entre os derrotados nas finais de Conferência. Pode parecer uma boa ideia, mas em resumo é apenas mais um jogo que não vale absolutamente nada; apenas envolvendo equipes completas que carregam o amargo sabor, ainda recente, de não ter ido ao Super Bowl.


Entre outras ideias vindas da imprensa e dos fãs, há também uma possível disputa entre os últimos colocados da liga pelo primeiro lugar no Draft. Basicamente seria aquele Thursday Night Football entre Jaguars e Bengals valendo virtualmente nada para os jogadores que de fato entrariam em campo – embora valesse para as franquias, possivelmente em situação de desespero por uma primeira escolha. Tirando toda a confusão e desinteresse interno, olhar tão fortemente para o Draft uma semana antes do Super Bowl certamente não é o que a NFL quer, em termos de marketing. E eventuais negociações de trocas ainda poderiam definir o "resultado" da partida até mesmo antes dela começar.


Por último, talvez a mais insensata ideia de todas: um jogo entre a pior equipe da NFL e a campeã da NCAA, liga universitária de futebol americano. Além da clara disparidade física de jogadores de faculdade e profissionais, as regras das duas ligas são diferentes e os estilos de jogo são totalmente opostos. Isso sem falar na questão organizacional e trabalhista. Quem organiza o jogo? A NFL? A NCAA? E o Sindicato dos Atletas, liberaria uma partida entre futebolistas que recebem salários e, na prática, voluntários?


Na humilde opinião deste que vos escreve, a solução era assumir o Pro Bowl como uma demonstração, uma espécie de exibição da NFL e do futebol americano para leigos e fãs iniciantes, com menos acesso ao esporte. Uma opção seria mover a partida para o início da temporada, quando os times ainda têm elencos inchados e jogadores tentando se provar. O local da partida? Por que não mercados emergentes, como México e Brasil? Ver as grandes estrelas da temporada anterior se preparando para a próxima atrairia os fãs de longa data; e a própria presença da NFL atrairia os novos. Pode dar errado? Pode. Mas pra quem não tem nada, metade é o dobro.


 

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