O rombo de um Brasileiro sem público: 330 milhões
Série C teve média melhor que a B em 2019, mas o montante não deve mais girar pelas divisões.

Há menos de um mês, o NesF publicou os números de arrecadação com bilheteria da dupla Remo e Paysandu no Campeonato Brasileiro da Série C em 2019. A ideia, aqui, era entender o tamanho do impacto direto da provável ausência de público, no eventual retorno do futebol, aos dois clubes. No entanto, não só as equipes de futebol devem sofrer. Se a renda líquida mostra o que cada jogo vale, financeiramente, para cada time, a renda bruta mostra o quanto de dinheiro o futebol faz girar, de cotas de federações até os impostos, além de equipes de logística. Quase sempre, claro, o que cobre isso tudo é a venda de ingressos. Quando não, os clubes efetivamente pagam para jogar. E esta é a tendência para 2020. O futebol tenta criar novas fontes de renda em tempos de crise, mas é fato que, quando os jogos voltarem, eles ainda terão custos de realização, ainda que provavelmente menores. E a principal patrocinadora, a torcida, não estará lá.
Parece claro, assim, que os clubes terão de oferecer algo novo para monetizar o apoio do torcedor. Várias tentativas ocorrem pelo mundo inteiro, desde a venda de ingressos virtuais até experiências que sequer envolvem os jogos. No entanto, talvez o redimensionamento de expectativas financeiras seja inevitável. O NesF fez, desta vez, um levantamento geral da arrecadação bruta com bilheteria nas quatro divisões do Campeonato Brasileiro de 2019. Os números da elite são absurdos, o que mostra que quanto maior a altura, maior pode ser o tombo. Em números totais, nem a Segundona chega a 10% do que a Série A arrecada. Porém, para clubes da Terceirona, por exemplo, os 81 mil arrecadados por jogo – média maior que a da Série B – são, muitas vezes, o que salva a temporada. O mesmo vale para a base da pirâmide, já que a Quarta Divisão inteira não arrecada nem metade do que a média de um só time da elite. Veja os números:
As quatro divisões do Brasileiro em 2019
Arrecadação bruta com bilheteria: R$ 331.839.002,00
Média por partida (1.220 jogos): R$ 271.999,18
Média por time (128 clubes): R$ 2.592.492,20

Série A em 2019
Arrecadação bruta com bilheteria: R$ 281.916.588,00
Média por partida (380 jogos): R$ 741.885,76
Média por time (20 clubes): R$ 14.095.829,40
Série B em 2019
Arrecadação bruta com bilheteria: R$ 28.165.106,00
Média por partida (380 jogos): R$ 74.118,70
Média por time (20 clubes): R$ 1.408.255,30
Série C em 2019
Arrecadação bruta com bilheteria: R$ 15.732.832,00
Média por partida (194 jogos): R$ 81.097,07
Média por time (20 clubes): R$ 786.641,60
Série D em 2019
Arrecadação bruta com bilheteria: R$ 6.024.476,00
Média por partida (266 jogos): R$ 22.648,41
Média por time (68 clubes): R$ 88.595,24
Chama atenção a relação, pelo menos em 2019, entre as Séries B e C, que parecem ter um mercado muito similar em termos de bilheteria. Os números da Terceirona são pouco mais de 50% da Segundona, mas a quantidade de jogos também é. A prateleira inalcançável da elite faz com que as duas divisões intermediárias se aproximem mais uma da outra, enquanto o abismo para a Série A segue aumentando. A arrecadação total da Série C, com 20 clubes somados, não alcança 2 milhões a mais que a média de arrecadação de um único time do topo da pirâmide. Ou seja, o que uma equipe girou de bilheteria, em média, durante toda a Terceirona de 2019, é quase a mesma quantia que uma única partida da Série A movimenta. Os números são eloquentes e mostram como o futebol nacional, até sem a pandemia do novo coronavírus, já não estava em situação saudável. Agora, pode piorar. Será preciso criatividade e muito mais para vencer a crise.
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