O Valencia e a busca por um centenário vitorioso
Clube do Sentimento Eterno festeja seus 100 anos entre altos e baixos na temporada.

Dos primeiros 13 jogos oficiais da temporada 2018/19, o Valencia Club de Fútbol, uma das mais tradicionais agremiações da Espanha, venceu apenas um. Após 11 rodadas de Campeonato Espanhol, a equipe estava na 15ª posição, perigosamente próxima da zona de rebaixamento e com o pior ataque da competição. Na Liga dos Campeões, o grupo era difícil, com Juventus e Manchester United, mas o time também demorou para engrenar, apenas empatando com os suíços do Young Boys – dois pontos perdidos que se mostraram fundamentais, já que os ingleses passaram para o mata-mata com 10 pontos e os morcegos, com 8, ficaram em terceiro e "caíram" para a Liga Europa. Um início complicado de temporada, mas talvez normal para um clube intermediário que, em tempos recentes, flutua entre a promessa e a mediocridade. Especificamente neste ano, porém, há um agravante: o Valencia comemora o centenário de sua fundação.
O futebol brasileiro conhece bem a pressão por um grande ano de centenário. Ela pode vir carregada de motivação e virar êxtase, como ocorreu com o Vasco em 1998, campeão da Libertadores, mas também pode ser sufocante e terminar em tragédia, como o rebaixamento do Coritiba em 2009 e, principalmente, a selvageria de supostos torcedores após a queda do time. No caso do Valencia, é possível que a história da temporada seja marcada por um pouco de cada. O início foi certamente muito ruim, decepcionando a torcida – quarta maior da Espanha – e dando motivo até para medo de queda. Já na reta final de 2018, entretanto, a tendência começou a mudar. Foi após triunfo difícil e de virada sobre o Ebro, da terceira divisão, na Copa do Rei. Quatro vitórias em cinco jogos, algumas boas sequências invictas (ainda que com muitos empates) e o clube chega neste 18 de março, dia exato de seu aniversário de 100 anos, com saldo positivo.

No último domingo (17), a equipe valenciana empatou sem gols em casa com o Getafe, em meio à comemorações do centenário. Foi o 16º empate da equipe em 28 jogos pelo Campeonato Espanhol. O Valencia, sétimo colocado e a três pontos da zona de Liga Europa, após a arrancada desde o fim de 2018, tem o mesmo número de vitórias que o grande rival Levante, na 15ª posição. E também é o segundo time com menos derrotas na competição, ao lado do Atlético de Madri, atrás apenas do líder e virtual campeão Barcelona. Não é a mais tranquila das temporadas, mas entre altos e baixos, os morcegos parecem já ter passado pelo pior. O próprio Getafe, adversário que "estragou" o jogo na véspera dos 100 anos, marcou um ponto alto do ano: pelas quartas de final da Copa do Rei, após perder a partida de ida por 1 a 0, fora de casa, o Valencia perdia também em casa, na volta. Empatou aos 60' e, com dois gols inacreditáveis, virou e ampliou nos acréscimos para classificar.
A Copa do Rei se transformou, a partir daquela virada incrível, de potencial decepção em grande esperança da temporada. O Valencia passou pelo Betis, na semifinal, também com roteiro de filme. Perdia fora de casa por 2 a 0, acreditou até o fim e empatou, novamente com gol nos acréscimos. Em casa, segurou a pressão e venceu. A final será justamente no estádio do Betis, em Sevilha. Encontro marcado para o dia 25 de maio, diante do Barcelona. Enquanto os catalães seguem vivos na busca de vencer tudo o que disputam, o Valencia terá pela frente uma decisão que mantém acesa a chama por um título no ano do centenário. E não é a única: após "cair" da Liga dos Campeões, a equipe faz boa campanha no mata-mata da Liga Europa. Eliminou o Celtic com duas vitórias e, de novo, estava caindo nas oitavas para os russos do Krasnodar até um gol salvador nos acréscimos. Nesta temporada, ser valacentista é quase proibido para quem tem problemas cardíacos.
A invencibilidade atual do Valencia é de 15 jogos, com 8 vitórias e 7 empates. E nas últimas 19 partidas, o time sofreu apenas uma derrota. A próxima sequência é dura, com jogos diante de Sevilla, Real Madrid, Betis, Atlético de Madri, o dérbi contra o Levante e as quartas da Liga Europa.
A verdade é que, mesmo com dificuldades, os investimentos para ter uma festa de alto nível nos 100 anos estão valendo a pena. No mercado, o clube espanhol gastou quase 130 milhões de euros para qualificar o elenco. Gonçalo Guedes, que já havia tido uma temporada no time por empréstimo do PSG, chegou em definitivo por 40 milhões – e fez o gol salvador contra o Krasnodar. A assistência foi do veterano Gameiro, contratado junto ao Atlético de Madri por 16 milhões – e que marcou o tento nos acréscimos diante do Betis. Kondogbia e Diakhaby, que somados custaram 37 milhões, se tornaram pontos importantes da equipe. Até o contestado Batshuayi teve seus momentos na Liga dos Campeões, enquanto Sobrino chegou na janela de inverno e já fez a diferença. Cheryshev, por empréstimo do Villarreal, se destacou com gols e assistências em jogos de mata-mata. O Submarino Amarelo, inclusive, será o adversário nas quartas de final da Liga Europa.
A busca do Valencia, na temporada em que completa 100 anos, é pela glória possível. O Barcelona, por exemplo, gastou menos de 130 milhões de euros, pela última vez, em 2015. Philippe Coutinho ou Dembélé, sozinhos, são equivalentes a um mercado inteiro dos morcegos. É quase impossível para um clube mediano na Espanha competir, em especial na Liga. Em jogo único, na final da Copa, o Valencia pode tentar melhor sorte diante do rival catalão. No Campeonato Espanhol, o time do técnico Marcelino tem a segunda melhor defesa, mas está entre os cinco piores ataques. A Liga Europa é mais equiparada com o potencial atual do Valencia, porém, mesmo nela, há Chelsea, Napoli, Arsenal e Benfica pelo caminho, além do próprio Villarreal, rival da região valenciana. Os próximos meses serão difíceis, até o fim da temporada, em busca de um final feliz. Neste 18 de março, entretanto, a maior vitória do clube é o Sentimento Eterno de sua torcida.
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