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Pelas beiradas, jogos "longe de casa" tomam conta

Não é só no Brasil: o mundo todo vende (ou ao menos tenta vender) mandos de campo.


Quando a última final da Libertadores, entre Boca Juniors e River Plate, foi realizada no Santiago Bernabéu, em Madri, a América do Sul se viu em uma situação única: tendo seu campeão definido fora da sua própria fronteira. Sequer no México a competição já havia sido decidida, apesar dos clubes do país terem participado do torneio por quase vinte anos; nas três situações em que os mexicanos chegaram na final, com Cruz Azul, Chivas e Tigres, eles receberam a partida de ida, não a de volta. Entretanto, embora o fato tenha sido uma novidade na escala máxima do continente, principalmente no caso de uma partida tão decisiva, este modus operandi já é conhecido no Brasil, ainda que internamente. Nos últimos anos, tornou-se tão comum times como Fluminense e Corinthians jogarem em Manaus ou Brasília, seja por vontade própria ou do adversário, que a CBF chegou a aplicar proibição em 2017 – rapidamente revertida em 2018. E fora do país, a realidade talvez seja ainda mais estabelecida.


Nesta quarta (16), às 15h30 de Brasília, Juventus e Milan decidem quem levanta a primeira taça da temporada italiana na Supercopa. É um confronto direto pela supremacia, já que cada time tem sete títulos; são os dois maiores campeões. O jogo ocorre em Jedá, na Arábia Saudita. É a 31ª edição do torneio e a décima que é realizada fora da Itália. Quase um terço, portanto, foi itinerante. E embora o número tenha crescido muito recentemente – sete das últimas dez Supercopas da Itália foram disputadas no exterior –, o hábito não é novo. Já em 1993, há mais de 25 anos, Milan e Torino se encontraram em Washington, nos Estados Unidos. De lá para cá, o embate entre o campeão italiano e o campeão (ou vice) da Copa da Itália já foi recebido por Líbia, China, Catar e, agora, Arábia Saudita – apesar dos protestos por conta do histórico de desrespeito aos direitos humanos no país. Se já era a taça nacional de menor relevância na Itália, os últimos anos fizeram a Supercopa se tornar cada vez mais um amistoso de luxo.


Marco Brunelli, o manda-chuva da Liga italiana, celebra a parceria com Turki Al-Sheikh, da General Sports Authority (GSA), um dos grupos poderosos em mercado que atrai as entidades do futebol. (Divulgação/Lega Serie A)

O mesmo ocorre na França. A Supercopa do país não é realizada em solo francês desde 2008, também passando por Estados Unidos e China, além da Áustria e de países não-europeus com relações próximas com a França, como Canadá, Tunísia, Marrocos e Gabão. Foi outra competição "fagocitada" pela lógica do jogo de exibição. E o mercado para investidores mundiais comprarem o direito de sediar partidas ainda é, no geral, restrito mesmo a amistosos. Uma das principais empresas do setor é a estadunidense Relevent Sports, organizadora da International Champions Cup; e justamente a líder na tentativa de quebrar esta restrição. O segundo semestre de 2018, na Espanha, se arrastou em meio às consequências de um acordo entre La Liga e Relevent para a realização de jogos do Campeonato Espanhol nos Estados Unidos. A Federação local tentou impedir, recorrendo até mesmo à FIFA, e jogadores ameaçaram greve até a Liga recuar e adiar a iniciativa, deixando claro que não desistirá do objetivo.


No Brasil, é claro, sequer há espaço no calendário para muitos amistosos. Mas um finalista de Campeonato Carioca já foi decidido fora do Rio de Janeiro. Em 2016, Vasco e Flamengo fizeram jogo extremamente parelho em Manaus, com o cruzmaltino vencendo por 2 a 0, a caminho do bicampeonato estadual. E todo o ano, inúmeras partidas têm o mando de campo vendido, para serem disputadas em estádios majoritariamente ociosos. De certa forma, pelas restrições de datas, o futebol brasileiro está em posição única: não possui competições nacionais de um jogo só para transformar lentamente em partidas semi-amistosas, mas tem os estaduais e é um país muito maior do que França e Itália em território, portanto faz internamente o que eles fazem no exterior. E também já faz o que a Espanha não quis. Pode não ser fora do país, mas o que é um Fla-Flu em Brasília, como ocorreu na 10ª rodada da última Série A, se não uma partida oficial com características de exibição? Exatamente o que La Liga queria fazer com Barcelona vs Girona.


O contrato entre a Liga espanhola e a empresa americana tinha duração de 15 anos e era no formato dos utilizados pelas organizações de esportes dos Estados Unidos. A NFL já realiza jogos oficiais no exterior desde 2005, a NHL desde 1997 e a MLB desde 1996. A NBA foi a pioneira, em 1990, e terá nesta quinta (17) uma partida em Londres.

Acidez à parte, no Brasil, pela existência de torcidas nacionais, ao menos muitas das partidas são um sucesso de público. O próprio Fla-Flu de 2018 levou 60 mil pessoas ao Mané Garrincha. Alguns clubes europeus podem achar que têm uma torcida global, mas a Supercopa da Itália já falhou em lotar um estádio de pouco mais de 12 mil lugares, no Catar, e a contraparte francesa já levou apenas 10 mil para um estádio com capacidade para 32 mil, em 2016. De muitas maneiras, a importância diminuta dos jogos pode funcionar tanto como o argumento para tirá-los do país, quanto como o catalisador do fracasso, quando ele ocorre. Afinal, em muitos casos as partidas atraem os poucos torcedores existentes pela região, mas simplesmente não são grandes o suficiente para atrair turistas e o restante do público em geral. Este é o grande obstáculo a partir de agora. E já começou a gestação do próximo passo.


Para ou bem ou para o mal, a maior competição de clubes do Mundo pensa em seguir a mesma lógica. O atual presidente da UEFA, Aleksander Čeferin, já assumiu o cargo, em 2016, falando da possibilidade de realizar a final da Liga dos Campeões fora da Europa – e não mudou de ideia, embora garanta que não há negociações para fazê-lo por enquanto. As decisões de 2019 (Madri), 2020 (Istambul) e 2021 (Munique ou São Petersburgo) não devem estar em questão. Mas a partir de 2022, o cenário estará aberto. E uma eventual final europeia permite reflexão que vale para quase todos os casos. Por um lado, o jogo é um espetáculo: se o estádio está lotado, as condições são favoráveis e a partida já seria em palco neutro, por que não? Por outro, dificultar (ainda mais) a presença da torcida é inegavelmente um problema. A questão é que, infelizmente, parece haver pouco espaço para a ponderação. Tanto lá quanto aqui.


 

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