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Revisitando, em filme, o que é ser torcedor

Adaptação americana de livro badalado de Nick Hornby traz o amor ao time para o beisebol.


A relação do beisebol com esta coluna, e com a minha vida em geral, é bem maluca. Não é nem de longe o esporte americano que mais acompanho, apesar do apreço que tenho por ele. Mas, vez ou outra, certas analogias ou observações vêm somente através do prisma deste esporte: como no texto sobre o Homem-Aranha. Desta vez, além disso, a motivação envolve um pouco de futebol também, mas o bretão, não o americano. Tudo isso porque recentemente eu revi um filme bem Sessão da Tarde chamado Amor em Jogo.


Adaptação do livro Febre de Bola, do britânico Nick Hornby, o filme carrega apenas o nome original em inglês (Fever Pitch) e a paixão pelo esporte como semelhanças com a obra literária. Escrito em 1992, a publicação do autor inglês fala sobre a sua vida e a paixão pelo Arsenal, clube de futebol londrino. Em 1997, já havia ido aos cinemas, em uma produção da própria terra da Rainha: Colin Firth interpretou o protagonista.


Diferente da versão de seus colonizadores, o filme estadunidense transfere a paixão para o beisebol, mas segue destacando o impacto da obsessão de um torcedor no romance entre um casal, assim como a película britânica. A paixão só poderia ser pelo Boston Red Sox, que em 2004 havia superado uma seca de 84 anos sem títulos. Nada mais comum do que usar uma história carregada de sofrimento para demonstrar a irracionalidade bonita que o esporte causa. Nas palavras do personagem Al Waterman: "Oitenta e quatro anos batendo a cabeça contra a parede, mas nós finalmente conseguimos. Essa parte você sabe, mas eu tenho uma história que você não conhece. É sobre um amigo meu que é professor. O nome dele é Ben."


Não planejo resumir o filme aqui, porém, apesar de ser uma comédia romântica simples, o filme estrelado por Jimmy Fallon e Drew Barrymore acerta no modo como ele representa o amor ao time. Claro que não falo por todos, mas essa paixão geralmente nasce na infância e, no meu caso, na primeira vez em que pisei no estádio. Para o personagem Ben, não foi diferente. Recém-chegado em uma cidade desconhecida, aquele ambiente em que tanta gente tinha um interesse em comum fez com que o garoto se apaixonasse pelo time das meias vermelhas. "Gosto de fazer parte de algo maior do que eu. É bom para a alma se investir em algo que você não pode controlar", é o que protagonista conclui, já adulto.


O casal protagonista do filme. (Divulgação/20th Century Fox)

De fato, o esporte causa essa sensação. Para o cético que aqui escreve, o único momento em que algo transcende a lógica acontece dentre das quatro linhas de um campo. Por que uma pessoa se dispõe a ver um time em má fase que não seja a total irracionalidade do amor pelo clube? Existe uma explicação racional para ir a um jogo contra equipe mais bem preparada, que vai certamente vencer? De onde vem a comemoração após um jogo morno com vitória chinfrim sobre um time de menor expressão? Só pode ser desta relação. Na primeira ida ao Fenway Park, casa dos Sox, o tio de Ben já o alertara: "cuidado garoto, eles vão partir seu coração".


A graça sempre é saber que, como este blog deixa claro, não é só futebol. Toda a vez que uma mãe narra o jogo para o filho cego, ou quando torcedores dão um ingresso para um morador de rua que sonhava em ver seu time do coração, até mesmo quando você se vê abraçando completos desconhecidos em uma arquibancada, é esta força aparecendo. Por alguns breves minutos ou segundos, nada importa mais que os gritos de milhares de pessoas.


Porém, o que nos humaniza é nossa capacidade de perceber a complexidade da vida. E se o futebol é muito mais do que ele mesmo, também é importante saber que segue sendo futebol. Neste quesito, o filme emparelha bem com o livro no qual se baseia. Quando a agenda de jogos dos Red Sox começa a ser rotina para o casal de protagonistas, a personagem de Drew Barrymore, Lindsey, pergunta: se algum dia uma emergência acontecer, Ben vai esperar o jogo acabar para agir? No livro, o próprio Nick Hornby faz esse questionamento sobre seu próprio comportamento, ao perceber que ignorava o mundo ao seu redor, inclusive suas namoradas, quando estava no estádio assistindo ao Arsenal.


E no fim das contas, todos os torcedores já fizeram isso em algum momento. Perderam um compromisso pelo jogo de mata-mata, adiaram um encontro pela abertura da Copa do Mundo, esqueceram completamente alguma obrigação no dia seguinte a um título. Um sentimento tão forte faz acreditar, por uma fração de tempo, que tudo o que importa no mundo está ali. Mas, na verdade, a relação de torcedor é justamente uma concentração de tudo o que já existe fora do mundo esportivo.


Vá ao estádio, berre com o juiz, xingue uma alteração indevida, comente tudo no caminho de volta. Só não se esqueça que a vida segue. E com ela, você também.

 

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