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"Rivais no campo, parceiros na história"

Dois lados da memória: mostra do Museu do Futebol vê clássico como espelho da bola, da vida.


Na última semana, chegou ao fim a exposição temporária Clássico é Clássico e vice-versa, que marcou o aniversário de 10 anos do Museu do Futebol. Desde 29 de setembro de 2018, data exata em que a inauguração do espaço completava uma década, estava em exibição um verdadeiro mosaico do Brasil em forma de futebol. Palco de inúmeros grandes clássicos, o Pacaembu, casa do Museu do Futebol, desta vez recebeu rivalidades do país inteiro de uma vez só. A mostra ficou disponível ao público até o dia 3 de fevereiro, com uma proposta bastante interativa – tanto nas peças digitais quanto nas físicas. Muitas das seções, inclusive, mostravam uma mescla interessante entre tecnologia e cenografia, uma completando a outra. De certa forma, o paralelo com o tema da exposição é claro: a forma e o conteúdo são como dois rivais históricos. Em um yin-yang futebolístico (e cultural), os dois se confrontam e se alimentam.


A entrada da mostra. (Divulgação/Museu do Futebol)

Esta foi, inclusive, a linha central da proposta por trás da exibição. De cara, o visitante é guiado a uma vídeo-instalação em ambiente mais íntimo, com três paredes escuras, enquanto o artista multimídia Tadeu Jungle conta histórias de dois Majestosos muito diferentes. Primeiro, em trabalho originalmente feito para a TV Cultura, a final do Paulista de 1983, em que São Paulo e Corinthians empataram por 1 a 1 e o Timão de Sócrates, Zenon e Casagrande levou o título. Depois, passando por mais de três décadas de rivalidade, outro empate por 1 a 1, desta vez no Morumbi e pela Série A de 2017 – que seria vencida justamente pelo Corinthians de Balbuena, Rodriguinho e Jô. Mas os resultados em momento algum são mostrados. A bola rolando também não. A instalação se chama "Majestosa, a rua do clássico", e foca apenas no cotidiano dos arredores dos estádios que recebem as partidas: a mais certa e crua consequência de um clássico.


Tricolores ao lado de corinthianos, botafoguenses que definem a própria identidade como oposição a tudo o que é rubro-negro, gremistas e colorados, azulinos e bicolores... "Quem tem rival, tem história". A cada passo, a exposição fazia questão de retratar o antagonismo clubístico como uma característica tão emocional quanto prática. Para quem se interessa por números e história, um estande digital que permitia selecionar qualquer um entre 45 clássicos de todos os estados do Brasil para conhecer mais: curiosidades, decisões de título entre os rivais, tabus, etc. Para quem prefere a festa e os sentimentos provocados por um clássico, outra vídeo-instalação sobre o assunto, com roteiro de José Roberto Torero. No varal-vitrine, camisas do Brasil inteiro, além de adereços curiosos, como roupas de torcedores-símbolo, bandeiras de torcidas rivais e diversas lembranças de grandes jogos – muitas vindas direto do arquivo pessoal de fanáticos espalhados pelo país.


Quem disse que a interatividade precisa ser digital? (Divulgação/Museu do Futebol)

Ao fundo, uma enorme parede em forma de almanaque. São placas dupla face, com os nomes dos clássicos de um lado e os clubes que o protagonizam do outro; além da história por trás da alcunha que batiza o confronto. Nesta parte da mostra, o foco era na curiosidade. Foram exibidos os nomes mais diferentes e as anedotas mais curiosas sobre as rivalidades em destaque. O formato de "folhas", que podem ser viradas, lembra parte da exposição permanente do próprio Museu do Futebol, onde são mostradas gigantescas fichas de quase 200 clubes do país, com todas as informações básicas de cada um. O grande diferencial de Clássico é Clássico e vice-versa, entretanto, é o canto das torcidas. Isso mesmo. Como parte da sala de exposições era um antigo vestiário, era possível descer as escadas e rumar pelo túnel até o gramado, sob trilha sonora: gritos de estádio gravados in loco pelo Brasil. Todas as regiões estão presentes, com Remo e Paysandu representando o Norte.


Durante os pouco mais de quatro meses que a mostra esteve no Museu de Futebol, mais de 100 mil pessoas foram visitá-la. Foi a primeira vez que uma exposição temporária no espaço tinha os clubes como tema; todas, até então, eram sobre a seleção brasileira, as Copas do Mundo, o Rei Pelé ou o futebol feminino, entre outros. A ideia nasceu em 2017, por ocasião do centenário de um dos grandes clássicos do país: o Dérbi Paulista, entre Corinthians e Palmeiras. Jornalista e pesquisador (em especial da história do Timão), o comentarista Celso Unzelte também participou, como consultor, do desenvolvimento da exibição, ao lado da equipe de conteúdo do museu, que fez a curadoria. Durante os quatro meses, não apenas a exposição permanente seguiu ativa, como diversos outros eventos foram realizados no Museu do Futebol – tais quais as Férias no Museu e o Espaço Dente de Leite, voltados para as crianças.


Parte das escadas que levavam ao gramado do Pacaembu, na qual foram destacados os clássicos "meio-a-meio". (Divulgação/Museu do Futebol)

Ainda não foi anunciada a próxima mostra temporária do espaço, mas a mensagem de empatia e tolerância, num esporte (e sociedade) de tanta violência, é mais relevante do que nunca. Um clássico não se faz com um time só. Se faz sempre com dois. A história de um clássico pede dois protagonistas. Os lados antagônicos da mesma moeda. São pontos de vista que definem qual deles é o "mocinho" e qual é o "vilão". Mas a moeda que representa o clássico tem dois lados. Sem qualquer um deles, não há moeda; não há clássico. A dualidade por trás da narrativa é o que torna fascinante um confronto entre dois rivais históricos. E a distinção entre o "roubado" e o "mimimi", entre a "virada na raça" e a "entregada", diversas vezes, é muito mais uma semelhança. O saber de que se poderia sempre estar do outro lado. Parafraseando Marcelo Barreto, "se alguém é capaz de sentir pelo adversário o que eu sinto pelo meu time, então, muito além de nossa fundamental diferença, temos algo em comum".


 

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