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Super Bowl sem soberba

Crescimento da bola oval no Brasil criou cultura entre os fãs, com lado positivo e negativo.


O grande jogo está prestes a começar. Neste domingo (3), Patriots e Rams se enfrentam pelo Super Bowl 53. Na mesa, vários salgadinhos, algumas opções de comida – quase sempre "tex-mex", como nachos, chili e até mesmo guacamole. Na sala estão os amigos, membros da família e aquele curioso ocasional. Alguns com as camisas de seus times favoritos, mas que não chegaram à final, outros torcendo para os competidores da noite. Tem os que vieram apenas pelos trailers e comerciais e até mesmo os que só querem assistir ao show no intervalo. Esse pode ser um bom resumo da noite de Super Bowl ao redor dos Estados Unidos, mas tem se tornado uma realidade cada vez mais comum também nas casas brasileiras de fãs da NFL. Talvez o motivo de não ser ainda mais corriqueiro no Brasil seja um só: os próprios fãs.


Pode parecer uma afirmação exagerada. E talvez seja mesmo. Mas no passar dos anos o Brasil se tornou um fervilhante mercado de futebol americano, e a NFL passou de uma curiosidade – que vez ou outra era transmitida – para um esporte televisionado à exaustão, com até mesmo quatro jogos simultâneos em canais fechados. Os serviços americanos de streaming do esporte já até são propagandeados em português. Há um crescimento inegável do passatempo estadunidense por aqui.


E é justamente nesta transição, de detalhe coadjuvante para protagonista em um mercado forte, que a cultura internalizada pelos próprios fãs pode se tornar um empecilho para atrair mais e mais curiosos para o esporte. Algo similar ao que aconteceu a outros nichos que se tornaram populares: como os produtos de super-heróis, que podem ser resumidos na frase "o sonho do oprimido é se tornar o opressor".


Não que o futebol americano oprima alguém neste sentido. Dificilmente uma criança vai ser ridicularizada na rua por não saber lançar uma bola oval ou por não lembrar a escalação daquele San Francisco 49ers de 1982. Mas quando há uma noção de identidade coletiva ao redor de uma expressão cultural que se vê popular e tem como objetivo ser cada vez mais popular, parte da responsabilidade é jogada para o outro: ele tem que saber do que você está falando.


O ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, assiste ao Super Bowl 43, entre Steelers e Cardinals, na Casa Branca. (Maison Blanche/Creative Commons)

Lembra quando você começou a acompanhar a NFL? Se foi por conta própria, provavelmente você lembra de procurar alguém com quem conversar sobre o tema. “Mas o que é esse negócio, afinal?”; “Por que tem tanto comercial?”; “Isso é muito difícil de entender”. Algumas das reações normais de que não acompanha o esporte. Explicar as regras tornava-se então um trabalho quase evangelizador. Era preciso ser didático e compreensivo, para que mais pessoas do seu círculo social gostassem do seu novo xodó.


Com essa popularização, principalmente em cidades grandes como São Paulo e Rio de Janeiro, foi cada vez mais fácil se unir com quem também gosta do futebol americano. Outra reação também normal: um ajuda a nutrir a paixão do outro. O que muitas vezes ocorre, entretanto, é a criação de uma bolha, que passa para muitos a sensação de que o esporte é mais popular no Brasil do que ele realmente é. E é claro que todos conhecem o segundo reserva do Blake Bortles. Sensação que se amplia quando chegam os playoffs e a procura pelas transmissões aumenta. Pois é. E é nesta hora que aquele seu amigo pergunta para qual time você torce, o motivo do cara de listrado ter jogado um pano amarelo e por que aquele chute valeu 3 e esse valeu 1.


No jargão dos jovens: "Parece que o jogo virou, não é mesmo?". Agora é a sua hora de brilhar, tudo que você mais queria está acontecendo, o povo clama pela sua sabedoria futebolística americana. Certamente não é a hora, como muitas vezes ocorre, de tirar sarro e rir do seu amigo que fala "final do Super Bowl", conhece o New England Patriots como "o time do marido da Gisele", entre outras.


Todos os que amam o futebol americano e que estão nesta jornada há mais de 6 anos (nem é tanto tempo assim, gente) sabem o quão difícil foi o esporte chegar, no Brasil, no ponto em que está hoje. Não há nenhuma justificativa para sustentar pedestal algum, que a própria cultura dos fãs criou. O mundo não é obrigado a conhecer (ou mesmo se interessar) apenas porque agora é mais popular.


Então chame seu amigo "leigo" pra tomar uma cerveja justamente no dia do Super Bowl; e explique as regras. Aproveite e fale que o Brady é o Pelé deles, as pessoas gostam de analogias esdrúxulas. Parece besteira, e talvez seja. Aliás, na verdade com certeza é. Mas é o pouco que cada um de nós pode fazer para que o esporte que gostamos seja ainda maior e, principalmente, mais amigável. Como todo ambiente esportivo entre amigos deve ser.


 

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