Torcendo pela boca
Festival Gastronômico do Remo teve tudo: de sanduba do Leão a um churrasco grego de gato.

No clássico entre Remo e Paysandu do último domingo, o popular Re-Pa, valendo pela semifinal da Copa Verde, ninguém comeu a bola. Foi daqueles zero a zero de xinar na rede. O único barulho, que acordou as torcidas no pós-jogo, veio de um pênalti não marcado para o Leão na raspa do tacho do segundo tempo. O choro mudou de lado.
Setembro ficou marcado pela chamada #GarfadaDosAflitos, graças ao pênalti mal assinalado, em partida contra o Náutico, que tirou do Papão o acesso à Série B do Campeonato Brasileiro. No sábado, 28 de setembro, véspera dos azulinos sentirem o gosto travoso de um erro de arbitragem, outro tipo de garfada (das boas!) rondou a sede social do Remo.

Chegou o dia, finalmente, de fazer jus ao boteco, que empresta o nome a esta coluna, e trazer para cá uns comes e bebes. Debaixo de um sol tacacático, torcedores do Leão foram provar as brocas do I Festival Gastronômico do Clube do Remo – Os Sabores da Nossa História. Alguns chefs convidados criaram pratos em homenagem a personalidades e símbolos da centenária trajetória azulina.
O mascote felino, por exemplo, foi lembrado no Hot Lion, um sanduba no pão careca com picles de maxixe, muçuã de botequim, queijo do marajó e um surpreendente catchup de cupuaçu com pitaia (R$ 15). Esse era o prato do chef Artur Bestene, o Arturzão, da Linguiçaria Paraense, um dos curadores do evento gastro-futebolístico.

"Com o maior prazer, entendi que poderia contribuir pra essa grande ideia: juntar gastronomia com a instituição de um clube de futebol. Como torcedor da gastronomia do estado, do turismo do Pará, fiquei super entusiasmado em poder contribuir pra isso", contou Arturzão, especialista em charcutaria, brasa e cozinha de fusão.
Além de Bestene, a curadoria do festival contou com a chef Ângela Sicilia, do restaurante Famiglia Sicilia. Tendo, na cozinha, a marca da mistura entre Itália e Amazônia, uma certa azzurra paraense ganhou o coração dos Sicilia nos gramados. Antes de abrir o próprio restaurante, a família de Ângela chegou a tomar conta do bar da sede social do Remo.
Mas voltando ao cardápio, o estádio Evandro Almeida, o Baenão, e o atacante da década de 1980 Eduardo Soares, o Dadinho, viraram pratos nas mãos da chef Daniela Martins, do Lá em Casa. Em homenagem ao Baenão, croquete de charque (R$ 10); para lembrar Dadinho, o maior artilheiro do clube, com 163 gols, claro, dadinhos de tapioca (R$ 10).

O poeta Antônio Tavernard, compositor do hino do Remo, deu nome a um cupim defumado, com mousseline de abóbora e crocante de jambu (R$ 20), assinado pelo chef Edvaldo Caribé, do Jambu BBQ. Carlos Ferreira Lopes, o Periçá, atleta do clube nos anos 1920 que faleceu após uma prova de mergulho, foi homenageado com um arroz de caranguejo, sarnambi e camarão regional (R$ 20), criado pela chef Solange Saboia, da Casa Combu.
O Risoto Mais Querido, do chef Raimundo Carlos, o Ray, do restaurante Beto Salomão, era um arroz de maniçoba, com calabresa, queijo coalho e farofa de pipoca de tapioca (R$ 20). O fettuccine à carbonara com castanha do Pará (R$ 15), feito pelo chef Julio César, do Toca 33, levava o nome do Mundialito de Caracas, que o escrete azulino conquistou em 1950.

O Festival Gastronômico inaugurou os festejos pelos 115 anos do Clube do Remo, que serão completados em fevereiro de 2020. Teve até bolo. A chef Debora Belarmino, que atua na doceria Delalê, apresentou o Bolo 33, feito de baunilha, com recheio de doce de leite e um creme azul marinho (R$ 10). Fazia referência, é claro, ao tabu de 33 jogos sem perder para o rival Paysandu, durante a década de 1990.
Rivalidade à parte, se tem uma unanimidade no futebol é o democrático churrasquinho de gato. Pois ele estava representado na sede social do Leão pelo prato do chef Thyago Guarany, do K Sushi. O Gato Grego era uma versão do churrasco grego no espeto, com uma interessante farofa de manteiga e canela, além de vinagrete de maracujá (R$ 15).

No domingo sagrado do futebol, foi a vez do espetinho raiz voltar a reinar. O churrasqueiro Cosme Costa, que aqui também vai virar chef Cosme (por que não?), estava assando espetos de carne e calabresa do lado de fora do Estádio Olímpico do Pará Edgar Proença, o Mangueirão. É assim há mais de 20 anos. Antes, a família dele já trabalhava com a venda de churrasquinho. Cosme relutou por dez anos, até que se rendeu à tradição.
O Re-Pa pode acabar sem gols, ser insosso, mas cerveja e churrasquinho de gato não podem faltar. Com 58 anos, Cosme é patrimônio do clássico. O gosto dos dias de jogo, para muitos torcedores, tem o tempero de churrasco relado na farinha comunitária. Um por R$ 2, três por R$ 5. Chore quem chorar no próximo domingo, que ninguém volte para casa de barriga vazia. Cosme agradece.

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